terça-feira, 19 de novembro de 2024

"Presente" de Rita Correia

 


Eu, pessoalmente, entre outras coisas, encontro presentes nos livros e sempre acreditei que isso orientaria a minha vida. Com eles tenho vivido momentos únicos e foi através deles que tenho conhecido pessoas fantásticas, uma delas, obviamente, foi a Rita, pessoa com quem nutro um entendimento, de certa forma simbiótica no modo de ver a vida. A convite dela, apresentei este seu livro no dia 19 de maio de 2024.

Presente de Edição de autor (2024), 7 (sete) anos depois da publicação de  "Ilumina", desta vez o livro azul, o quarto livro de autor da ilustradora Rita Correia

A temática não será logo de leitura automática e literal, mas a autora já nos habituou a ter que pensar para entender os seus livros e faz muito bem. Os livros da Rita não são simples nem ingénuos, antes pelo contrário, são de uma complexidade que não se podem (como um bom livro) ler/manusear só uma vez. Acumulam camadas de pormenores subtis, quer a nível gráfico, como a nível textual e paratextual.

Os pequenos detalhes em cada página, só para leitores atentos, (a presença de elementos de outros livros da autora; pequenos elementos que se repetem) a mobilidade do livro na sua leitura/utilização, os jogos e mapas sempre existentes na sua obra.

Na sociedade atual, em tempos conturbados, é premente questionarmos o equilíbrio e a ligação com a natureza, na premissa de que estamos todos ligados. Um presente como uma dádiva da vida.

Nas guardas estamos já imersos em mistério nas palavras que se entrelaçam nas nossa vidas, na comunhão com o outro, a natureza e os animais.

É com o outro que a autora/ilustradora se envolve, desde sempre, valorizando cada um de nós e o outro, porque não existimos sozinhos, como refere na dedicatória na ficha técnica.

Realce para a constante presença de livros (da autora e de outros), pois somos feitos de narrativas, as nossas e as que lemos, onde reside na verdade a magia da vida. E esta, infelizmente, não sendo infinita, convém, que dela, se viva o presente.

Não sei, na realidade, como vai ser o futuro, mas tenho comigo o Presente - e é isso que devemos valorizar. Palavras que nos ligam no tempo/espaço - o mundo inteiro cabe dentro deste livro com todas as palavras que cada um de nós escolhe no caminho que fazemos.

 ritapcorreia@gmail.com | http://www.ritacorreia.com

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Instantes Inclusivos - Animais e outros seres como personagens principais do enredo

A abordagem aos animais, a sua personificação, as perdas ou a sua adoção são um assunto recorrente na literatura para a infância. Aqui se destaca, nesta rubrica, algumas publicações de livro ilustrado envolvendo o mundo animal.


Faísca - a história de um encontro para a vida

de Guojing

Baduga (2022)

 Depois de Only Chid , livro ainda não publicado em português, chega-nos este segundo título desta ilustradora, através da recente e criteriosa editora Baduga.

Uma narrativa gráfica de ilustrações muito realistas, que nos conduz num enredo quase cinematográfico, acompanhando os encontros entre uma rapariga e um cão.

Toda a delicadeza usada na “lente” da paleta, quase fotográfica, transmite-nos secretamente num envolvimento permanente na narrativa, onde se aborda a perseverança, a confiança e a amizade de um modo inigualável, através do modo como os personagens interagem, criando no leitor o permanente desejo de um desfecho feliz, que ao contrário do original, o título em português, desvenda logo inicialmente.

Um livro sem palavras, com opções gráficas muito impactantes, sublime e encantador ao nível estético, que não deixará ninguém indiferente depois de o contemplar.

 


Miau!

de Joana Estrela

Planeta Tangerina (2022)

Tal como o livro anterior, também este se apresenta como uma novela gráfica sem texto. Apenas nas guardas iniciais existe uma breve introdução à obra, onde o leitor pode decidir os nomes dos personagens felinos.

Numa paleta monocromática com predominância da cor azul a narrativa revela ao leitor a dinâmica de uma casa onde habitam dois gatos e uma criança, mostrando como humanos e animais convivem e interagem. Um livro ternurento, com ilustrações simples muito cuidadas, com formato para mãos pequenas, de leitura autonóma ou a pares, evidencia o conhecimento dos hábitos e diabruras de quem convive com felinos que fazem parte da família.

Pormenores delicados, como devolver pequenos aracnídeos à natureza ou pequenos momentos de afeto são relevantes na narrativa circular, claramente fundamentais na nossa relação com a natureza como parte integrante de um todo, inspirados no projeto CLAN – Human-Animal Studies que aconselho vivamente a visitar.

 

Cocuruto

de Clara Cunha

Ilustrações de Vitor Hugo Matos

Livros Horizonte (2023)

 Da autora do famoso Cuquedo, o Cocuruto provavelmente irá dar que falar. Um personagem só avistado por crianças atentas, e evidentemente, talvez por leitores adultos muito perspicazes.

Encontrar Cocurutos talvez não seja comum, pois são raros, e ao que parece são inteligentes com poderes especiais e só se revelam se acreditarmos neles.

O narrador deste livro, protagonista da narrativa a par da ilustração, conduz-nos num mundo da infância brincando com o imaginário e o crescimento da autonomia das crianças.

Uma narrativa divertida e reconfortante, facilmente recebida pelas crianças, com uma estrutura gráfica muito peculiar com atenção aos detalhes paratextuais.

Conta bem que o sono vem

de Mafalda d´Oliveira Martins

Livros Horizonte (2023)

Tratando-se de uma artista ligada à pintura, esta autora/ilustradora logo nos remete para uma galeria de arte, através das suas ilustrações, onde a narrativa da contagem, em duplo sentido, nos remete para o período do sono.

Logo nas guardas, o papel de parede, que nos contextualiza a localização da narrativa, acompanhado de uma paleta de cores quente, remete-nos para o lugar tranquilo e aconchegante do quarto, onde a contagem para a vinda do sono se desenrola. Para além da habitual contagem de carneiros, o coelho (que surge logo na capa) vai sugerindo soluções à criança protagonista.

E é precisamente o coelho, de seu nome Bolacha, nome de si já apetecível numa narrativa de rotinas da infância, que numa mudança súbita, acompanhada também ao nível da paleta de cores, encontra finalmente o caminho para o sono do protagonista.

Um livro delicioso, com um título de duplo sentido da palavra contagem, na enumeração das rotinas, encerrando em si a ternura da infância que se cruza na tranquilidade visual e textual. Um livro para observar várias vezes, com inúmeras camadas de leituras.

Um leão Uma cadeira Uma praia

Marco Taylor(2023)

Não sendo a primeira vez que falo deste autor/ilustrador, com diferentes livros e abordagens múltiplas, Marco Taylor volta a surpreender, desta vez, com um livro objeto de narrativa circular, em formato de acordeão que se transforma nas inúmeras estórias que o leitor quiser criar.

Partindo de um personagem, (que pode ser ilustrado pelo leitor), um objeto e um local, a narrativa é oferecida ao leitor numa caixa, onde as “páginas” se ligam por ranhuras. Ranhuras essas, que podem ser colocadas em diferentes opções/posições, possibilitando desse modo combinações várias para diferentes narrativas ou podendo mesmo, criar mais “páginas” ao livro original.

O pouco texto, proporciona a dinâmica para a construção de frases mas é arbitrária a sua utilização. Pode ser utilizado como um excelente recurso para incentivo para escrita criativa, para criação de poemas ou de Haikus, como ligação a outras obras ou atividades.

Um manancial criativo a que o ilustrador já nos habituou, onde as crianças facilmente reconhecem o humor e o absurdo.

Acrescento ainda a possibilidade deste livro ser usado em conjunto com o próximo livro do mesmo autor e formato a sair em 2024: Uma pulga Uma colher Um jardim.

Por ser edição de autor, podem adquirir este e outros títulos no site do autor onde foi retirada a foto do referido livro: https://www.marcotaylorautor.com/


in: in: pág. 59-61 Revista Educação Inclusiva Vol. 14 - nº 1 e 2 - 2023

https://proandee.weebly.com/revista_v14n1e2_2023-188997.html





domingo, 19 de maio de 2024

Instantes Inclusivos - Olhares peculiares vividos em nome próprio

 Nesta rubrica, neste semestre, são abordados livros que quase me arriscaria dizer, escritos em nome próprio.

Embora ligados a uma editora, as autoras decidiram a publicação das suas narrativas, visando a partilha da diversidade das problemáticas de desenvolvimento, com vista ao conhecimento daquelas, com as suas características e especificidades, mas essencialmente com a necessidade premente de apelo à inclusão.

Nesta seleção, apresento a escrita de três mulheres, quer na sua função de docentes ou mães, que partilham com a comunidade educativa, através das suas narrativas escritas, a experiência vivenciada das diferentes problemáticas.

Não são livros que essencialmente, no seu foco, sejam destinados exclusivamente a crianças. Embora pensados como sendo esse o público alvo, é a via para partilhar com a comunidade educativa, algumas dificuldades no desenvolvimento, alertando para o facto de que atrás das dificuldades e obstáculos, existe a necessidade de respeito pela diferença, a esperança, mas também as potencialidades e sobretudo a resiliência.


Esmeralda, a menina com síndrome do amor (Chiado Editora - 2017)

Serafim, Fã de rotinas (Edições Vieira da Silva (Edições Vieira da Silva - 2021)

Ilustrações de Nuno Ezequiel

   

No primeiro caso, facilmente é identificada a problemática da protagonista. Já no segundo caso, talvez, só docentes e pais que conhecem a problemática compreenderão o "subtítulo". Satisfaz-me este último caso, preferencialmente. Mais do que nomear as especificidades, é manifestamente mais relevante potenciar o respeito pela diferença. É também, nesta premissa, que a autora, docente de educação especial, escreveu ambos os livros.

Com base no seu conhecimento profissional, quer a personagem Esmeralda, como o Serafim, são crianças que frequentam a mesma escola. É no segundo livro que se conhecem, pois Serafim chega como novo aluno.

As questões de crianças e professores são o foco das narrativas, acompanhadas com frequente sentido de humor, sempre na valorização das capacidades intrínsecas de cada criança, como sendo muito mais relevantes do que as suas dificuldades aparentes.

No primeiro caso, a Esmeralda, é-nos apresentada por um amigo que descreve a protagonista. Através da sua curiosidade, vai questionando diferentes personagens para a explicação do comportamento de Esmeralda, para os quais vão surgindo diversificadas justificações, através de um texto curto, linear em cada página, sempre acompanhado por grandes ilustrações de aguarela e lápis de cor.

No segundo livro, mantém-se o mesmo amigo, como narrador, sendo ele próprio que nos descreve as características e potencialidades do Serafim. Também, neste caso, acompanham o texto, ilustrações de aguarela e lápis de cor, em grande plano, de cores diferentes e garridas nas várias páginas, existindo, por vezes, em alguns casos, um certo desequilíbrio e incoerência nas cores escolhidas. Não retira o valor da intenção narrativa, mas abunda, em minha opinião, grande quantidade de estímulos visuais.

Ambos os livros, requerem mediação para melhor eficácia junto do público alvo.


O enigma de Caetana 

Ângela Silva Pinho e Vítor Lopes

Pais em rede (2020)

 

O enigma de Caetana apresenta-se como um livro singelo, despretensioso mas muito eficaz no duplo olhar de duas realidades observadas e vividas pela autora.

Por um lado, o olhar curioso e atento da criança protagonista para comportamentos peculiares do personagem Lourenço, e ao mesmo tempo sagaz na observação dos outros pela especificidade.

Apelando, direi eu, às suas recordações e vivências de mãe, a autora, coloca o leitor nos sapatos do outro, podendo facilmente percecionar  as realidades diferentes da sua, reconhecendo no discurso inclusivo as características identitárias da problemática mas, permitindo paralelamente aos leitores, reconhecer a diversidade desses registos onde reside a resiliência de quem os observa e experencia.

Nestes dois paralelos, vivenciamos ambos os personagens, porque o enigma de Caetana reflete as dúvidas de quem desconhece tais comportamentos, mas também o observador exterior, neste caso a autora, que sabiamente os sabe descrever e melhor ainda, justificar.

A articulação entre o texto e as imagens, predominantemente de linhas, muito simples, combina-se na sequência de acontecimentos, personagens ausentes de cor, apenas com alguns pormenores (laço no cabelo da personagem Caetana e cabelo louro do personagem foco da narrativa inclusiva), dando espaço ao leitor para a depuração da linguagem que atinge uma simplicidade potenciadora da compreensão e do interesse das crianças.

Mais do que dar este livro para a mão das crianças é importante fazer a sua mediação. A autora, docente, atenta ao contexto educativo, realça pormenores peculiares que permitem diferentes leituras para diferentes leitores. A subtileza e a inteligência com que se abordam as questões de Caetana começam por cativar o leitor, instigando-o e questionando-o de forma permanente. Só no final do livro, muito discretamente, se identifica a problemática do Lourenço e é neste remate final que a delicadeza da autora remete para a protagonista os sentimentos nela presentes, deixando para o leitor a mensagem que se impõe. A vida é ela própria um enigma, não há barreiras para não desfrutar dela!

 


As conquistas do Larico - Planeta das palavras

Carolina Chaves Graça Morais e Joana Leitão ilustrações de Raquel Pessoa e Costa 

Flamingo (2022)

O livro, As conquistas do Larico, constitui-se, em primeiro lugar, como um testemunho de mãe, a Carolina, na partilha do que é ter um filho com Síndrome de Angelman, permitindo aos leitores, eventualmente, reconhecer algumas características desta problemática.

O depoimento da mãe é logo elemento de nota na referência inicial do texto, na sua dedicatória ao seu filho António, protagonista Larico desta aventura, bem como é partilhado com o leitor a página de apresentação da Associação Síndrome de Angelman (associação, que, curiosamente, também possui um livro sobre a temática intitulado “Quem disse que os anjos não têm costas?”).

Deste modo, sabemos logo à partida, o contexto do livro, o seu objectivo, e de certo modo, os seus destinatários. Percebemos que o mote da existência deste livro é seguramente a partilha com os outros, (comunidade em geral) nas questões da problemática, nesta aventura, em particular, a busca das palavras.

É nesse contexto que surge este projeto com vista à inclusão, que se apresenta em formato livro. A mãe do protagonista juntou as suas palavras com as de Joana Leitão, surgindo deste modo a narrativa que necessita de alguma contextualização.

Identifica-se pormenores do quotidiano de uma família, perspectivadas pelo olhar peculiar de alguém, neste caso, atrevo-me a afirmar, da mãe como narrador. Ela não se identifica, claro está, na sua narração, mas desde a leitura das páginas iniciais do livro, que é ela (a mãe) que lá está com o seu olhar sobre os acontecimentos do quotidiano, convocando o leitor, através do potencial imaginativo, idealizado por ela. É a sua presença constante que identificamos, na sua resiliência na busca das conquistas do António, em modo de convite num percurso que só o sonho e amor de mãe consegue alimentar.

Um texto em formato de aventura com algumas situações por resolver, é trazido até ao leitor pela voz da criança, que encontra na ilustração de aguarela uma colagem da narrativa descrita. Os acontecimentos desta aventura sucedem-se, refletindo o processo de descoberta e crescimento proporcionado pelas vivências da referida aventura.

Uma viagem, neste caso, um voo como ambição transformadora, com um final revelador do que se aspira para os nossos filhos/alunos, que é afinal de contas a aceitação da diferença e dos desafios como revelação (citando as palavras da mãe /autora numa “plenitude”).

Texto com uma narrativa emocional ao encontro da diversidade de sentimentos, na busca da superação das adversidades, nomeadamente a ânsia e desejo perfeitamente plausíveis de uma mãe que sonha/aspira uma viagem em busca das palavras, que mais do que imaginária se torna credível no desejo de qualquer mãe.

Este livro, em termos pedagógicos, na minha opinião, necessita de ser contextualizado por pais e professores para uma abordagem mais ampla do foco a que se destina. Já no final do livro existem ilustrações dos personagens para colorir. Estas propostas, podem ser alargadas, pelo mediador, sugerindo atividades sensoriais ou propondo eventualmente a construção de novos protagonistas, permitindo assim, alargar a criatividade do leitor a leituras transversais e paralelas, apelando mesmo a novas narrativas e finais.

Um projecto familiar/maternal com a decisão da narrativa através de uma viagem, que que é afinal de contas cada percurso individual, com um final repleto de amor incondicional.

Se o Larico possuísse as palavras que ainda não tem, estou em crer, que ele diria que esta mãe é uma lutadora incansável na missão a que se propôs - divulgar a sua experiência com os outros, enaltecendo as dificuldades da diferença, fundamentalmente com a capacidade do olhar atento para a premente inclusão.

 in: pág. 44 Revista Educação Inclusiva Vol. 13 - nº 2 - dez 2022

https://proandee.weebly.com/revista_v13n2_dez2022.html


terça-feira, 30 de maio de 2023

Instantes Inclusivos - A literatura no prato

A temática da alimentação está recorrentemente presente nas narrativas da literatura infantil. Apelando para o ciclo da vida, das tradições ancestrais à roda da mesa ou alertando para uma alimentação saudável. A temática está presente desde a Capuchinho que leva o lanche à avó passando pela Lenda da Sopa da Pedra que partilha de elementos comuns de outras narrativas do mundo onde um frade esfomeado a quem ninguém quer ajudar, consegue os diferentes ingredientes para uma sopa bem real. Muitos são os títulos que nos trazem o prato para a literatura. Muitas e difíceis são as escolhas. Aqui deixo algumas partilhas.


Eric Carle, autor internacionalmente conhecido, tem nas suas edições a sobejamente conhecida A lagartinha muito comilona”, editada em diferentes tamanhos e formatos, um título incontornável na literatura infantil. Poucas são as crianças e adultos que não conhecerão este clássico da literatura infantil, originalmente publicado em 1969. A narrativa de ilustrações brilhantes com recurso à técnica de colagem acompanha o ciclo de uma lagarta desde a saída do casulo à transformação em borboleta.

Entre nós, editado pela Kalandraka, conta com a versão original em 2007, seguindo-se em 2014 uma edição especial do 45º ano de publicação, com capa comemorativa utilizando a técnica da impressão lenticular, que nos permite mover a imagem e em função do ângulo do olhar assistir a toda a metamorfose ; 2020 - edição pop up, edição comemorativa dos 50º aniversário de publicação.

O olhar, sempre inteligente, do autor/ilustrador nas duas primeiras versões apresenta-nos as diferentes páginas com perfurações onde é visível as refeições variadas da lagarta ao longo dos dias da semana. Refeições, similares na maioria dos casos, à das crianças, brincando com as quantidades e os seus excessos. A versão pop up alarga esta narrativa às imagens tridimensionais.

                                                                                         
O Nabo Gigante
de Alexis Tolstoi; Ilustrações de Niamh Sharke
Livros Horizonte (2002)

Deste conto original russo existem várias versões editadas. Este recolhido por Alexis Tolstoi no séc. XIX, publicado pela Livros Horizonte é sem dúvida a publicação merecidamente mais conhecida nas estantes de bibliotecas e casas portuguesas, em parte pelas sublimes Ilustrações da premiada artista irlandesa, Niamh Sharkey.
Acompanhando as caraterísticas de um conto popular, narra a vida de um casal de velhinhos e as suas atribulações na vida do campo e as respetivas sementeiras, apelando para os ciclos do tempo, a espera, a mudança e predominantemente a solidariedade. 

                                                                                                            Come a Sopa, Marta!

Marta Torrão

Bichinho de Conto (2004) Reedição com outra capa em 2016   

Marta, a protagonista, talvez a homónima, simboliza todas as crianças que não gostam de sopa. Quem não recorda na sua infância a voz do adulto, uma mãe omnipresente que nos remete para uma infância de persistência e esforço perante um prato desafiante de sopa…

Um livro delicioso, apesar de todas as contrariedades alimentícias, onde a sabedoria materna apela para um jogo de curiosidade, sentimentos e muita ternura. Um jogo sábio para os pequenos leitores e uma cumplicidade para os mais crescidos.

Uma cumplicidade gráfica entre o visual e o texto com jogos de colagens e sobreposição de texturas. Merecidamente este livro foi vencedor do Prémio de Ilustração em 2004 e faz parte também da seleção internacional White Ravens, distinção atribuída pela Biblioteca Internacional de Munique. 

Um livro que permanecerá um clássico.                                                                                                                                                                                                      


Dia em Que a Barriga Rebentou

Texto de José Fanha 

Ilustração: Maria João Gromicho  

Edições Gailivro (2009)

O narrador revela-nos logo nas primeiras páginas a alimentação importante nas diferentes refeições. Um desfile inicial de sabores, cheiros e cores apresentando deste modo uma alimentação variada a contrastar com a da família Bisnau, que só vivia para comer, não só às refeições, mas a todas as horas do dia. A alusão aos hábitos de uma família de aves que come sem parar e que enchem a boca de tudo o que conseguiam apanhar é o mote para a abordagem dos excessos e em especial da obesidade. De um modo humorístico e lúdico José Fanha partilha neste texto a enorme “gula” dos personagens que visível logo no título nos antecipa a viragem da narrativa, pois um dia a barriga do Bisneco rebentou, que é como quem diz, tem uma indigestão. Uma ida ao hospital confronta o personagem com os maus hábitos alimentares. Talvez, por isso, a família Bisnau possa modificar os seus comportamentos com uma dieta rigorosa e exercício, permitindo ter uma vida mais feliz e saudável.


Sopa de nada

Texto de Darabuc

Ilustrações de Rashin Kheiriyeh 

OQO (2011)                                                                        

Uma analogia à narrativa da Lenda da sopa de pedra, numa versão antropomórfica hilariante com ratos, gato e uma raposa como protagonistas. Nesta versão o frade é substituído pela astúcia de João Rato e Maria Raposa. Numa sequência cumulativa de ingredientes gastronómicos que nos conduz a um final “prodigiosamente cozinhado”, o prato propriamente dito e o desfecho humorístico de um rato que continua a roer as pedras de tão gostoso repasto.

Ilustrado com recurso a carimbagem, tintas e colagem de diferentes materiais evidenciando texturas gráficas muito singulares e apelativas, faz desta obra um soberbo “confecionado”.  


Compota de manzana

Klaas Verplanckle

ediciones ekaré (2012)

Um livro narrado na primeira pessoa que relata a relação do protagonista com o seu pai. Relação essa que oscila, como com todas as crianças entre o amor e o enfado. As ilustrações fantásticas arejadas e soberbas acompanham o pouco texto da narrativa de modo sublime.

Sentimentos e sensações entre medos e retornos ao lugar onde nos esperam, apesar das “tormentas momentâneas” há pais que nos esperam sendo reconfortantes com dedos a saber a doce de maçã.

Uma narrativa para “lambuzar” repetidamente. 



A Revolta dos Vegetais 

de David Aceituno; Ilustração: Daniel Montero Galán  

Nuvem de Letras  (2017)

Tudo começa com um burburinho no frigorífico. Dentro deste, os vegetais dinamizam uma revolta contra as crianças que permanentemente se recusam a comer vegetais.

O formato textual, tendo como objetivo incentivar as crianças a comerem vegetais, convive com uma ilustração que oscila entre a banda desenhada e cartazes publicitários, utilizando símbolos e códigos. Os personagens assumem um papel antropomórfico nas suas reivindicações. De modo humorístico este álbum ilustrado joga com aspetos literários/culturais e visuais que o público adulto reconhecerá, permitindo ao jovem leitor uma descoberta gráfica muito interessante mas que necessita de alguma prévia compreensão leitora a par do eventualmente acompanhamento do adulto.

A horta do Simão

Rócio Alejandro

Kalandraka (2017)

Simão é o protagonista desta narrativa que se sucede a um ritmo quase previsível. Digo previsível porque permite diferentes associações e contestações/interpretações por parte das crianças à medida que ela se vai desenrolando, possibilitando prazerosas e importantes tertúlias sobre a aventura que se vai desenrolando. Depois de uma progressão cumulativa de personagens e acontecimentos, já perto do final da história num toque quase mágico e de fator surpresa o desenlace apresenta-nos como um sinal dinâmico que nos surpreende para a importância da partilha e solidariedade.

Inspirada na horta comunitária do seu bairro, a autora Argentina apresenta-nos um livro lindíssimo desde a simplicidade funcional e oportuna das guardas, passando pelo desfile cumulativo dos acontecimentos. Merecidamente ganhou em 2017, o Prémio Internacional de Compostela para álbum ilustrado. 

Porque é que Tenho de Comer os Legumes? 

Enciclopédia saber quem sou n.º 3 

Emma Waddington e Christopher Mccurry

Ilustração: Louis Thomas 

Booksmile (2018)

Porque é que tenho que comer legumes é um livro que faz parte de uma enciclopédia. Esta e outras doze questões ligadas à alimentação, hábitos de vida saudável e segurança são respondidas de modo a criar debates entre pais e filhos sobre cada questão. Um livro para ler a pares adulto/criança.


Rita e a Floresta de legumes

Rita Redshoes e Narciso Moreira

Betwein (2018)

Um livro que resulta de um projeto pedagógico de promoção de alimentação saudável. Narrativa da artista musical Rita Redshoes, dinamizada musicalmente ao vivo ou em sessões online pela autora em parceria com a empresa Betwein. Uma menina que teima em rejeitar os vegetais, até ao dia em que estes se tornam diferentes e tristes ao se sentirem abandonados num extremo do prato. Uma viagem estranha acontece à protagonista numa aventura pedagógica. 

 

Um Bolo para o Lanche 

de Christian Voltz

Kalandraka (2020)

A ilustração irreverente e criativa de Christina Voltz é facilmente identificável. Rostos, narizes, e cabelos dos personagens são-nos revelados através de utensílios de madeira, uso de arame, a par de outros materiais reciclados. Desta feita numa narrativa culinária recheada de amor e muito humor. No primeiro caso, porque o protagonista, o senhor Anatole convidou a menina Blanche, eleita do seu coração para lanchar desejando presenteá-la com um bolo. Mas como existem algumas dúvidas neste repasto, variadíssimos ingredientes vão sendo adicionados a conselho dos amigos que vão dando uma ajuda. Sucedem-se as experiências até à chegada da convidada que surpreenderá o próprio senhor Anatole com a sua descoberta. Hilariante nas peripécias que se sucedem em cada dupla página, em complemento de um olhar prévio escondido nas guardas onde se encontram as receitas de mãe, sempre um recurso de auxilio nestas questões de culinária. Um livro recomendavelmente saboroso!  


O Bolo de Maçã -Um hino à gratidão

Texto de Dawn Casey; Ilustração: Genevieve Godbout 

Fábula (2021)  

 

 Este livro deliciosamente ilustrado por

Genevieve Godbout, leva-nos juntamente com a protagonista a um passeio pelo campo.

Ao longo do percurso pela natureza é feito um agradecimento sistemático à natureza e ao que nos proporciona, conduzindo-nos até às delicias com que se pode confecionar o referido bolo. Um livro que representa uma ode aos outros e ao que compartilhamos na casa onde todos habitamos em comunhão com a natureza.

No final do livro é partilhada a receita do bolo para de certo modo a mensagem da narrativa seja continuada na confeção e partilha da degustação do mesmo. Este, quem sabe partilhado sobre uma toalha de mesa com o padrão oferecido nas guardas. Só resta desejar: Bom apetite!


in: pág. 66 da revista Educação Inclusiva Vol.13, nº1 - julho 2022

https://proandee.weebly.com/revista_v13n1_jul2022.html





segunda-feira, 30 de maio de 2022

Instantes Inclusivos - Para além de muros e fronteiras

 Para além de muros e fronteiras

 O interesse em divulgar o livro ilustrado nesta rubrica, constitui um objectivo que tem vindo a ganhar alento com o feed back de alguns associados. Deste modo, dando continuidade à importância do livro ilustrado em função dos seus diferentes formatos, por vezes pouco convencionais, permite, através da riqueza e abordagem das ilustrações ou pouco volume de texto, o fantástico potencial de abordar diferentes questões inerentes à vida. Uma delas é a abordagem das migrações, textos geradores de mudança, alertando para a expectativa da esperança, com o acolhimento de outras culturas e consequentes experiências, que na verdade tornam o nosso mundo mais rico. 

Nesta rubrica os livros escolhidos têm em comum histórias de medo, perdas, desamparo e adaptação, mas também de algum modo a perseverança, a coragem e resiliência. Uma mensagem fulcral no sentido de abordar as desigualdades sociais 
esperando-se, contribuir para uma reflexão de um tema actual, proporcionando o debate junto dos alunos e docentes, no desenvolvimento do sentido crítico e de cidadania. Apoiando-me numa citação curiosa de S. Mateus Arenque (1991) in: Subsídios para o cancioneiro popular de Azambuja, II Azambuja

(...) os homens de valor são todos aqueles que mesmo sem nada lhes ser ensinado são capazes de pensar e atinar com o juízo da vida”.

Desejando que estes livros nos unam na empatia pelo outro, para além de muros e fronteiras.

 



Migrando

Texto e ilustração de Mariana Chiesa Mateos

Orfeu mini (2010)


 Um livro fabuloso, onde são as imagens que nos contam duas narrativas, deixando ao leitor duas capas (cartonadas) diferentes para iniciar o ponto de partida. Narrativas isoladas, ou que no acaso se interligam. Pessoas, tal como as aves, que partem em busca de novos lugares onde eventualmente se reencontram com o medo, a intolerância, a incompreensão, mas também com a coragem e novos desafios de futuro. Ilustração formas e de sombras, de cores sólidas onde oscilam páginas cheias de cor oscilando com outras onde figuram apenas alguns pormenores, de sintonia com a mensagem pretendida. Imagens poéticas, comovedoras que acompanham episódios de percursos e resiliência.

 

 

Migrantes

Ilustração de Issa Watanabe

Orfeu mini (2021)

Onze anos separam este livro do anterior, publicado pela mesma editora. O que nos permite concluir que através da sua enorme beleza estética, urge continuar a abordagem da temática. Outro livro soberbo, onde são as imagens que compõem a narrativa. Ilustração de anatomia rigorosa dos personagens de animais antropomorfizados, personalizando assim os migrantes em busca de novos lugares através de uma travessia marítima. Percursos acompanhados pela coragem e empatia, a par da morte e do sofrimento. Imagens poéticas e metafóricas da migração de cores vivas que personificam a vivacidade da vida em contraste com cores sóbrias na permanente presença da morte.

 

Uma longa viagem

Daniel H. Chambers e Frederico Delicado

(Kalandraka 2018)

 


Duas narrativas em paralelo. Uma vez mais, pessoas, tal como as aves, partem em busca de outros lugares. Desta vez, a narrativa acompanha os refugiados na sua fuga de guerra, a par do percurso migratório de uma gansa e a sua cria. Duas viagens em sentido inverso, tendo em comum as adversidades do percurso. Ilustrações arrebatadoras (de grafite com técnica sfumato, com alguns apontamentos de cor de pastel seco que marcam o contraste na ilustração sóbria de algum paralelismo a fotografias), que personificam contextos e lugares numa dimensão sem condescendência sobre a experiência de “voos” tão diferenciados quanto necessários.

 

A viagem

Francesca Sanna

(Fábula 2018)  

Publicado originalmente em 2016, este livro é traduzido em mais de vinte línguas. Livro premiado e candidato a vários prémios, como entre nós a nomeação (no ano da sua publicação portuguesa) para Melhor Ilustrador Estrangeiro no Festival Amadora BD 2018.

Uma narrativa inquieta de como as vidas podem mudar inesperadamente através do olhar de uma criança, numa viagem para um destino desconhecido, fugindo de uma guerra que assola o país natal da protagonista.

Uma história comovedora sobre a perda e o medo, a par da coragem e esperança com ilustrações carregadas de detalhes onde a leitura visual nos completa a informação da narrativa textual. A ilustração digital com texturas com predominância para duas cores que dominam a narrativa (laranja e azul) com a utilização do preto para o símbolo da guerra numa importante metáfora narrativa.

Um título inspirado, segundo, a nota final escrita pela autora, em histórias de muitas viagens verídicas. Lindíssimo e comovente, também mencionando a analogia das aves que migram, com uma mensagem de esperança no futuro.

 

Eu e o meu medo 

Francesca Sanna

(Fábula 2019)  

 

Da mesma autora e editora anterior. A temática mantem-se, desta vez, abordando os medos de quem se encontra perante o desconhecido. A língua, hábitos e novos desafios. De texto curto, uma vez mais, são as ilustrações de cores vibrantes que completam muitos detalhes. Cores pasteis, mantendo a linha de ilustração da autora, onde o branco é utilizado na personificação do medo, não representando uma personagem totalmente negativa e que, progressivamente, ocupa o espaço da narrativa, fazendo parte dela e tornando-se num elemento positivo. Sensível e delicado revela-nos o quão belo é o poder da empatia e da amizade.

 

Refugiados e migrantes

Texto de Ceri Roberts. Ilustração de Hanane Kai

Bertrand (2018)


Inserido na colecção “As crianças e o mundo”, este livro apresenta-nos logo no seu índice o enquadramento das temáticas que se pretendem abordar. Sem narrativa aparente, existe porém uma linha sequencial do processo de migração quer através do texto como das ilustrações. No final do livro, possui um pequeno glossário, bem como a indicação de outras obras sobre a temática. As ilustrações de cores térreas e texturadas acompanham o texto de cada temática, na sua maioria em página dupla.

 

La cruzada de los ninos *

A cruzada das Crianças

Texto de Bertolt Brecht

Ilustração de Came Solé Vendrell

* El Jinete Azul (Espanha - 2011)

Pulo do gato (Brasil - 2014)

 


 

Acompanhando o texto escrito (em forma de poema de Bertolt Brecht em 1939), a ilustração rabiscada de quase esboço, de linha preta sobre branco, com apontamentos vermelhos numa única página inicial (que pontua o momento inicial da narrativa), acompanha o percurso, em plena segunda guerra mundial, de um grupo de crianças polacas em busca de um lugar seguro. Nesse trajeto infindável o encontro com outros personagens e adversidades, faz desta narrativa ilustrada um manifesto contra a guerra.

 

Emigrantes

de Shaun Tan

Kalandraka (2011)

 


Sem texto, esta obra do conceituado ilustrador Shau Tan, revela-se como uma novela gráfica de tons sépia, com pinturas rigorosas, em que a luz e a sombra assumem extrema importância para realçar as figuras e os ambientes da narrativa. Num paralelismo a fotos antigas como num álbum de memórias entre o passado e o presente, representando magistralmente uma ode a todos os que empreenderam uma viagem, em muitos casos, contra vontade. Na coerência habitual deste ilustrador as formas estranhas e mágicas, quase surrealistas misturam-se entre a realidade e o fantástico num misto de tempo de nostalgia com o assombro. Perturbador e comovente.

 

A mala

Chris Naylor-Ballesteros

(Edicare - 2021)

 

 De narrativa simples, harmoniosamente interligada com a ilustração e algum toque de humor fazem deste livro, de capa dura, o livro ideal para a abordagem da diferença com os mais pequenos (e não só). A curiosidade e o receio pelo outro, bem como a importância das decisões em grupo. A ilustração de aguarelas com contorno de linhas pretas carateriza cada personagem. Uma mensagem lindíssima sobre quem tem na mala poucos pertences carregados de toda uma memória.

 

O Nevoeiro

Texto, ilustração e design Marco Taylor (2021)


Sobre o desconhecido e respeitar o outro, não podia, deixar de mencionar, uma vez mais, Marco Taylor. Autor que já nos brindou com duas capas para a nossa revista (2018), e que continuamente surpreende a cada novo livro. O nevoeiro, é mais um exemplo disso. Em tons de cinza, predominantemente, conduz-nos para o ambiente inóspito do nevoeiro, através de imagens em papel vegetal, com linhas de cor que guiam personagens e leitores, contrastando com a narrativa realizada em grafite. Livro cosido e concebido manualmente, fazem deste livro uma obra de arte.

Um texto inquieto, dramático e misterioso de uma personagem que ambiciona sair da sua aldeia envolta em nevoeiro. Um percurso do desconhecido com um final em aberto, apelando à solidariedade, aceitação e tomadas de decisão em grupo.

Podem adquirir este livro de autor no site, cuja foto foi retirada: O Nevoeiro :: marcotaylorautor

 

O muro no meio do livro

Jon Agee

Nuvem das letras (2020)

 

Face a diferentes muros, frequentemente erguidos, por vezes constituem-se como barreiras, ou em outros casos, lugares seguros . Contudo, por vezes, o lugar seguro deixa de o ser e o outro lado pode ser um novo recomeço. Um livro sempre oportuno, com ilustrações de animais com formas simplificadas, utilizando recorte de pinturas texturadas sobrepostas de cores pastel.

Uma ilustração claustrofóbica ao longo da narrativa, para no final dar uma aragem à liberdade da narrativa final, apelando para a mensagem de que a leitura da nossa realidade nem sempre é mais adequada, alertando para as ideias pré concebidas perante o desconhecido. Um livro delicioso, permitindo a continuidade da narrativa com uma ideia em aberto. Tão simples, eficaz e divertido, quanto genuinamente fundamental na abordagem a esta temática.

in: Revista da Pró-Inclusão:  Associação Nacional de Docentes de Educação Especial 

Vol. 12, N.º 2 - dezembro 2021