sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Instantes Inclusivos - Yoga

A questão do Yoga na importância do conhecimento do corpo, como manifestação externa da mente e como esta é influenciada pela alteração das respetivas posturas é uma temática bem pertinente nos dias de hoje, num tempo onde parece existir uma tendência de contrariar a aptidão inata do movimento e da escuta do próprio corpo. Aliar esta atividade à leitura, promove o desenvolvimento da criança com as atividades que seriamente respeitam e incentivam o lúdico como fonte de aprendizagem.  Existem algumas publicações que reúnem estes dois polos e é alguns desses exemplos que partilho nesta rubrica.


As minhas primeiras melodias de relaxamento

Gilles Diederichs. Ilustrado por Emiri Hayashi

Edicare (2008)

Em 2008, a editora Edicare publicava este livro de edição traduzida. Livro cartonado visando o manuseamento por crianças pequenas. O universo da narrativa são os elementos da natureza, acompanhado de um CD, que através de sons e músicas, visa proporcionar momentos relaxantes e de serenidade. Indicado para ser usado pelos pais na interação com as crianças, permite a exploração musical, a par da descoberta do corpo, promovendo a motricidade. 


RESPIRA

Texto e ilustrações de Inês Castel-Branco

Pequena Fragmenta (2015)

A pequena fragmenta passou a ser uma coleção da Editora Akiara. Existindo assim, uma 2ª edição deste livro da Akiara books em 2018. 

Através de um diálogo, entre mãe e filho, é abordada a consciencialização do ato de respirar e dos benefícios que existem na reflexão desse ritual. Ligações à natureza e aos aspetos sensoriais do corpo,  são o fio condutor da narrativa. 

A ilustração numa base de aguarela, completado com recurso a colagens (fotos e outras texturas como cartolina, revistas, papéis diversificados) e também recurso a carimbos, causando destaques na utilização e conjugação dos vários elementos que criam diferentes texturas e relevos. 


 IOGA

Texto De Miriam Raventós. Ilustrações de Maria Giron

Pequena Fragementa (2016)

Neste livro, a narrativa inicia-se com um desafio. Partindo da questão se é possível fazer-se várias coisas ao mesmo tempo, aborda-se a necessidade do ritmo, da espera e uma vez mais, a coisa mais simples e elementar que o ser humano consegue fazer: o respirar. Uma viagem pelas origens do Yoga, na Índia, envolvendo personagens que valorizam apenas uma coisa, simples e natural. 

Ilustração, numa paleta de cores pastel,  que se inicia nas primeiras páginas, como modo de introdução dirigida às crianças, através de uma abordagem aparentemente ingénua,  alternando para uma ilustração muito realista quando se inicia a viagem pelo mundo do yoga. Neste âmbito apresenta um traço anatómico muito bem definido, cativando o leitor para as respetivas posturas, que nos transmitem, para além da beleza estética das mesmas , o impulso para a sua concretização 

Existe um equilíbrio estético de páginas, na medida em que alternam também elas, entre páginas cheias de elementos, contrastando com páginas limpas que deixam respirar o leitor. 

Em ambos os livros da editora Akiara Books, existe no final um guião de leitura, com exercícios simples para a prática de religar o corpo à respiração consciente, bem como exemplos simples de cada postura de Yoga.  

A primavera do Yoga – uma viagem pelos sentidos

Texto de Márcia Viana

Ilustrações de Um coletivo de duas

Casa Capaz (2019)

O Inverno do Yoga – uma viagem pelos sentidos

Texto de Márcia Viana

Ilustrações de Um coletivo de duas

Casa Capaz (2019)

Estas duas publicações, publicadas no ano transato, respetivamente na primavera e no inverno, fazem parte de uma proposta de quatro livros, que acompanhando o ciclo da natureza se coaduna verdadeiramente, ao nível do desenvolvimento da criança. A autora dinamiza sessões de yoga com as crianças, e estes livros constituem-se como um material fidedigno da sua prática.  

Ambos os livros, inspiram-se no Método Montessori, um método que tem o foco na autonomia, liberdade com limites e respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades físicas, sociais e psicológicas da criança.

Tendo como fio condutor a evolução da criança, o adulto funciona como mediador, e neste ponto, sendo o adulto responsável pelo desenvolvimento global harmonioso da criança só pode ser um intermediário que faculta várias experiências/vivências de modo a que a criança descubra por si, e não seja, apenas um mero espetador do que o rodeia.

Enquanto no primeiro livro, o foco era na criança e na sua relação com o passar do tempo físico e sensorial, mas também com o conceito espacial de tempo, este segundo livro mantem a mesma premissa, de observar e vivenciar uma aventura na natureza, de modo sensorial, alargando-o a outros elementos espaço temporais e formas do sentir em paralelo com a narrativa, com outros personagens, mais ou menos ocultos. Como é o caso da existência de um ouriço bem escondido, manifestando-se, ainda que discretamente, mas muito marcante, (evidente ao longo da obra) um enorme respeito pela natureza e animais em geral. O respeitar o outro, numa simples observação: “vamos deixá-lo tranquilo”. Assuntos muito sabiamente, bem  explanados  nas capas.

No primeiro livro a importância da polinização e o respeito pela abelha relacionado, obviamente, com a primavera. No segundo livro, a questão da hibernação ligada ao inverno. Em ambos, a passagem do tempo e a transformação.  

Também em ambos os livros, a família é um elemento presente, como fator de segurança e promotor de oportunidades. No caso do Inverno do Yoga,  surgem elementos da família alargada, como é o caso dos avós. É a saída da família que desperta a relação com o mundo exterior e no segundo livro é o retorno à casa, como elemento de proteção que reforça e é contentor de afetos (o que estava já implícito no primeiro), mas que neste segundo é bastante mais evidente.

Em ambos, existe uma coerência similar tanto ao nível do texto, como no aspeto gráfico. Mantem-se organizado do mesmo modo – guardas, (pautadas por pequenos pormenores alusivos à época), a distribuição do texto e respetivas posturas. Olhando para ambos os livros, (que na publicação do primeiro, isso obviamente, podia não ser expectável), percebe-se, agora com a existência do segundo, que se trata de uma coleção. Os pormenores no topo da capa e os da contra capa remetem para uma interdependência temática, neste caso de uma coleção. (Yoga e estações do ano)

Combinando a prática de mindfulness na capacidade humana de estar plenamente consciente dos pensamentos, das emoções e do próprio corpo, oferece conteúdo pedagógico, (supostamente, o público alvo será a idade do pré escolar e 1º ciclo, por consequência educadores de infância e professores de 1º ciclo, bem como pais). Contudo, arrisco, porém, a alargá-la a outros públicos e idades, no âmbito da educação emocional que integra. 

Uma narrativa ilustrada, simples,  mas delicada, acompanhada de uma ilustração realista que se harmoniza na mensagem pretendida. A suavidade da linha desenhada, completada com a pintura primorosa de guache, oferece-nos um conjunto harmonioso limpo e arejado, quer a nível da imagem como da narrativa textual a que se refere. 

Para finalizar, em síntese, considero que ambos os livros contribuem para melhorar a relação com os outros e com o que nos rodeia, bem como fortalece a relação com o próprio. 

No final da narrativa do segundo livro, existe o convite para a experiência de um chocolate quente, a par de uma sugestão de desenho. Apenas como um reparo, deixaria livre a atividade plástica e não um modelo a ser colorido, o que, obviamente, não invalida toda a pertinência deste livro. 

Eu Sou Yoga

de Susan Verde. Ilustração de Peter H. Reynolds 

Nascente (2019).

Sem ter propriamente uma narrativa, este livro,  apela à transformação do corpo e da mente, em particular. Ao longo do desenvolvimento humano existem transformações e experiências e este livro, apela à capacidade da mente criativa para superar desafios e mudanças. Através de dezasseis posturas do Yoga (pormenorizadas num miniguia), de modo criativo, apela, à já fértil imaginação da criança, para a resiliência de enfrentar desafios. O texto, de pequenas frases por página, é acompanhado pelas ilustrações suaves (gauche, rodeado a contorno de linha preta) do consagrado Peter H. Reynold´s, que transformam este livro numa pequena viagem a mundo metafórico. As cores coesas e equilibradas da ilustração remetem-nos para um imaginário poético e contemplativo do que podemos ser, transformando pensamentos em sensações positivas.


A montanha do amor

Texto de Raquel Gonçalves

Ilustrações de Ana Gabriela

Edições Betwein (2019)

Raquel Gonçalves é a autora deste texto que também em colaboração com Carla Lobato dá vida à capa da revista que temos em mão. A autora, enfermeira especialista em saúde materna e obstetrícia,  desenvolve também sessões de Yoga para crianças. Da sua prática, surgiu um desafio inicial para uma história em contexto educativo. Desta experiência surgiu este livro.

A narrativa acompanha uma criança, em idade escolar, que se desafia a conhecer e explorar, o mundo para lá do que observa da sua janela. 

Na sua viagem, explorando a montanha que avista, Júlia, a personagem, encontra animais, proporcionando, nas posturas destes, o conhecimento do corpo individual, a par das experiências/vivências criativas e descobertas sensoriais. São estes desafios, numa conexão de mensagens emocionais e de valores que fazem deste livro uma ferramenta pedagógica de yoga e mindfulness, onde em cada página, o texto (em quadra) traça a narrativa da aventura, de coragem e autoestima, uma exceção na existência de uma quintilha, evidenciando a viragem para a persistência e superação dos receios. A construção da autoconfiança para o retorno ao lugar seguro, na família, onde estão os afetos.  

As ilustrações, de base aguada de aguarela com apontamentos de lápis de cor, numa palete de cores equilibrada entre cores quentes e frias, equilibra o jogo narrativo que se interliga com a coerência das posturas e sentimentos.

 A Tua Cabeça é Como o Céu

 Texto de Bronwen Ballard; Ilustração de Laura Carlin 

  Fábula (2019)

A psicóloga Bronwen Ballard, responsável pelo texto, aproxima-se do leitor, tratando-o pelo pronome pessoal.

Desta cumplicidade próxima, logo evidente na capa, conduz-nos ao longo da leitura, num texto simples e direto, onde alia a prática mindfulness à consciência dos sentimentos.

Numa analogia entre a mente humana e o céu que avistamos, remete-nos para a importância de não menosprezar medos e sentimentos negativos, revertendo para a necessidade de os sabermos reconhecer e ultrapassar, evitando sofrer por antecipação.  

Numa ligação simbólica entre texto e ilustração, o jogo contemplativo e nostálgico de ambos, transporta-nos para um estado de infância permanente. As ilustrações harmoniosas da premiada Laura Colin, numa paleta de cores suaves, com utilização de técnicas mistas, (como aguarela, acrílico e lápis de cor), remetem-nos para um ambiente bucólico e difuso  aumentando a narrativa escrita. Os jogos de sombras e os desenhos, como que de esboço, se tratassem, constituem-se como um deleite para os sentidos, onde apetece apaziguarmo-nos com a nossa existência. 

in: Educação Inclusiva - Revista da Pró-Inclusão:  Associação Nacional de Docentes de Educação Especial  - Vol. 11, N.º 1 - junho 2020

https://proandee.weebly.com/revista_v11n1_jun2020.html

ler: https://issuu.com/geral-proinclusao/docs/inclusiva_vol.11_n.1_issuu

descarregar: 

https://proandee.weebly.com/uploads/1/6/4/6/16461788/revista_educacao_inclusiva_vol.11_n.1.pdf


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