O rebanho
Margarita del Mazo (texto) e Guridi (Ilustrações)
Edições La Fragatina (2014)
A todos nós é
atribuído um rebanho de ovelhas diferente. Já conhece o seu rebanho? Ou será
daquelas pessoas que não conta carneiros pois já consegue dormir bem? Nesse
caso, talvez pense que este livro não seja para si, o que duvido, pois permite explicar
como é que tudo acontece.
Sem exceção,
todos nós possuímos um rebanho de ovelhas diferente. Cada um tem o seu. O
Miguel, personagem desta estória, tem também um. E como qualquer rebanho, faz o
que todos fazem. É fácil pois, ser ovelha. Passear, dormir, comer e ajudar a
dormir. Parece ser simples, desde que se siga o manual, pormenor importante,
pois se isso não acontece e se foge às regras a mutação ocorre, em forma de
ovelha negra. Como se pode prever pelo já enunciado e seguindo a narrativa que
a ilustração da capa sugere, a ovelha negra protagonista deste imprevisto é a
ovelha nº 4.
São as suas
escolhas e decisões que influem no funcionamento do grupo e no repouso
reconfortante ou desconfortante do Miguel.
Com muito humor
e algum non-sense, este livro aborda de modo excecional a importância da
diferença no direito a dizer não e do livre pensamento. O texto, bastante
reduzido mas sabiamente escolhido, relaciona-se de modo soberbo com a
ilustração, também ela mesuradamente apresentada.
A simplicidade
da ilustração, de técnica mista, ausente de excessos desnecessários, oferece uma
narrativa gráfica fluente e concisa através de uma paleta de cores pautada pelo
contraste provocado entre o branco e o preto, (o branco do espaço diurno das
ovelhas e o negro da noite da criança), com apresentação ténue de algumas
cores, como o verde, o azul e alguns toques de vermelho.
Destaque para
pormenores que necessitam de uma leitura gráfica mais atenta e que dão um toque
de cumplicidade ao leitor, como por exemplo, o mostrador do relógio nos olhos
do Miguel, a aula explicativa de como funciona um rebanho, pormenores
inteligentes onde a ilustração não funciona como acessório ao texto mas antes o
alarga noutras leituras e narrativas, nomeadamente ao nível de leituras análogas
do comportamento humano.
O final da
estória revela um desfecho tranquilizador, mas não totalmente estanque, permitindo
um complemento de narrativas após a leitura.
Hilariante,
provoca gargalhadas francas com uma dose de carinho à mistura. Merecidamente
ganhou o Prémio Melhor Álbum Ilustrado Gremio Libreros de Madrid 2014.
Elvira
Cristina Silva
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