A história da corda teve a sua origem num convite feito para atuação na Livraria Bichinho de Conto em Óbidos a 10 de agosto de 2011.
A história foi realizada a 6 mãos, ou seja, pela tríade familiar num misto de cumplicidade afetiva e paixão musical.
Posteriormente, a 28 de abril de 2012, tem uma apresentaçao no Museu do Trabalho em Setúbal
A dia 18 de janeiro na Livraria Gatafunho
Deste dia, fica a crítica de quem assistiu e realizou uma recensão de uma atividade de Música e Literatura. A Inês Araújo agradecemos a partilha.
Crítica
a Uma História da Corda
"No dia 18 de Janeiro de 2013, pelas 21h30, foi apresentado um projecto
narrativo e musical (Uma História da
Corda) na GATAfunho loja de livros. Este espectáculo é feito por Elvira
Silva, a narradora, e por Gustavo Silva (neste caso no seu projecto a solo Liberdade), o instrumentista e
cantor que, inicialmente, fez o acompanhamento musical da narrativa.
O texto
(de autoria própria) realça a importância de alguns instrumentos tradicionais
portugueses (cavaquinho, guitarra braguesa, bandolim e guitarra portuguesa),
tornando-os os personagens principais do espectáculo e dando-lhes vida própria.
A história inicia-se com a falta de auto-confiança do cavaquinho, cujas apenas
quatro cordas e o seu tamanho reduzido o fazem sentir inferior a outros
instrumentos. O desenrolar da história é feito à volta das aventuras e
descobertas do cavaquinho por Portugal e da sua busca de conselhos de
instrumentos que ele próprio considera serem superiores a ele (quer no tamanho,
quer no número de cordas, ou mesmo quanto à importância e simbolismo de cada um
desses instrumentos). Assim, o cavaquinho encontra-se com a guitarra braguesa
e, depois, com o bandolim; o cavaquinho dialoga com eles, procurando melhorar a
sua auto-confiança com a ajuda destes seus novos amigos. Por fim, a história
acaba na própria GATAfunho loja de livros, onde os três instrumentos se reúnem
e a quem se junta a guitarra portuguesa (que o cavaquinho anseia por conhecer).
Os quatro instrumentos
narrados são personagens tanto na história como na música que a acompanha. Nas
mãos de Liberdade os instrumentos ganham vida e personalidade, realçando as
características de cada um deles. Ao longo da narração da história, o
instrumento destacado em cada passagem vai sendo ouvido ao mesmo tempo que a
história é contada; no fim de cada passagem, é feito um solo com o instrumento em causa, denotando os “sentimentos” do
instrumento nesse momento da história e criando, assim, pequenos
acompanhamentos instrumentais que evidenciam as simples características
físicas, as tonalidades sonoras e melódicas dos vários instrumentos utilizados.
A sincronia entre o texto
e a música está muito bem feita; é
exemplo a referência feita numa parte do texto a um acorde musical que,
simultaneamente, é tocado por Liberdade no instrumento em questão. A falta de
confiança do cavaquinho é transmitida, também, pela música que o representa,
através de apontamentos de notas soltas que vão-se enquadrando numa música
ligeiramente lenta. No final da narração, o cavaquinho apresenta já um registo
musical diferente: ritmo forte e regular, várias notas são tocadas (apesar das
suas quatro cordas e do seu tamanho físico inferior, comparando com os outros
instrumentos), velocidade, tom maior que denota a “alegria” do instrumento no
momento final de festa e de reunião com os restantes instrumentos; lembra um
pouco a sonoridade da banda recentemente aclamada Mumford & Sons.
Um dos pontos mais
interessantes quanto a esta síntese de texto e música é o facto de se
complementarem, de se apoiarem, acabando por fortalecer o produto final a que
se assiste. Outro ponto interessante é, sem dúvida, a apresentação das várias
dimensões dos instrumentos, musicadas por Liberdade (não deixando de fazerem
parte das características de cada um dos instrumentos de corda). É de referir o
trabalho exemplar quanto à interpretação musical do texto relativamente à
guitarra portuguesa: este instrumento, tão característico de Portugal e do
Fado, é normalmente associado a melancolia, tristeza, a um lado negro e
depressivo. No entanto, Liberdade optou por mostrar uma outra faceta da
guitarra portuguesa, não tão triste, mas sim segundo um registo mais alegre,
mais dinâmico e mexido (através do ritmo), menos usual.
Quanto à narração não se
pode deixar de dizer que é perceptível a boa construção textual, com imaginação
e versatilidade, chamando a atenção do público para as particularidade e
“sentimentos” de cada instrumento. No entanto, talvez a narração ganhasse mais
se a narradora Elvira Silva estivesse mais perto do público e mais longe do
músico, permitindo uma maior audibilidade do texto, pois, por vezes, foi
difícil perceber certas palavras ao mesmo tempo que se ouvia o acompanhamento
musical.
Após a conclusão da
narração de Uma História da Corda,
Liberdade interpretou temas próprios – cantando, em português, letras suas e
tocando tanto a guitarra clássica como o bandolim ou o cavaquinho. A sua
actuação foi apreciada por todos e a interacção com o mesmo foi positiva. Tendo
interpretado diversas músicas, mais uma vez ficou clara a sua versatilidade de
instrumentista e revelado o seu jeito enquanto cantor e letrista. Mais uma vez,
também, as letras e a música entraram em sincronia e complementaram-se. Vários
registos foram apresentados, entre influências Rock e de Blues,
passando, até, por Gershwin.
Para concluir o
espectáculo, o público foi convidado a “conviver” com os vários instrumentos,
observando-os e tocando-os, podendo discutir com Liberdade algumas das suas
particularidades.
Concluindo, Uma História da Corda foi, sem dúvida,
um espectáculo interessante e diferente. Este projecto pode ser considerado
pioneiro e importante, pois mostra ao público em geral (crianças e adultos) as
características e particularidades de instrumentos tipicamente portugueses que,
por vezes, são pouco conhecidos do público. Projectos assim (portugueses, em
língua postuguesa, de autoria própria e que mostram e divulgam a cultura
postuguesa) deveriam ser mais apoiados, mais apreciados, mais divulgados e mais
incentivados. Venham mais!"
Inês Marques Faria de Araújo
Com muito prazer e muitos mimos voltámos a um espaço muito aprazível, a 27 de janeiro na Livraria Gatafunho.
Desta vez a contadora mais perto do público e com alguns adereços, permitindo uma maior envolvência do público infantil.
Agradecemos aos que nos mimam e aos que acreditam na importância dos afetos, das estórias e à passagem do testemunho de cultura e preservação de memórias.
Vamos dar corda à corda e ainda nos vemos, por aí, um dia destes.