terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Foi assim no passado sábado. No Museu do Carmo a Conversa sobre Ilustração

Foi um enorme prazer moderar a conversa sobre Ilustração. Um tema que aprecio num lugar que me é muito especial. 
Agradeço pois a pessoas fantásticas como a Costanza Biso e a Rita Santos do Serviço Educativo do Museu do Carmo, que me colocaram este desafio. À Susana André e à Gabriela Sotto Mayor terem acedido ao meu convite, tornado este dia memorável. 
Ao Paulo por ter concebido a estrutura para a exposição magnifica da Gabriela Sotto Mayor que estará patente até 14 de fevereiro. 
Por último e não menos importante à Raquel Reis  criadora do lindo cartaz de divulgação do evento e responsável pelo registo fotográfico que aqui partilho.













segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ação de formação: Cócegas na mente - Literatura infantil como nutrição

Cócegas na mente - Literatura infantil como nutrição

FORMADOR

LOCAL

Lisboa, Museu do Carmo

DESTINATÁRIOS

Educadores de infância e professores do 1º CEB *

MODALIDADE

Curso

CALENDARIZAÇÃO

4, 11, 18 de fevereiro de 2017; 4, 12 de março de 2017, horário: 9h/14h;

Nº DE HORAS

25

UNIDADES DE CRÉDITO

1

REGISTO DE ACREDITAÇÃO

ACC - 86883/16 - Área de Formação: A

CONTEÚDOS

- Tipologia de livros: Escolher que livros e porquê?
- Desenvolvimento da criança/Importância dos livros para a infância no desenvolvimento;
- Critérios de seleção de livros. Como se escolhem os livros;
- Promoção da Leitura/Mediação leitora/Animação à leitura – Práticas de atividades;
- As expressões globalizantes no desenvolvimento da criança no universo do livro infantil. 

Ação: A29
Cócegas na mente - Literatura infantil como nutrição

Inscrição aqui

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Sábado de Ilustração no Museu do carmo


No dia 14 de janeiro, às 15h, estarei no Museu do Carmo à conversa sobre ilustração com Susana André e Gabriela Sotto Mayor. 
Uma honra estar a moderar esta conversa. 
Estão desde já convidados. Apareçam.  




Susana André mestre em Arquitetura pelo ISCTE-Iul (2016), frequentou igualmente aulas de ilustração na Faculdade de Belas-Artes em Lisboa, que inspiraram a sua dissertação de mestrado, «Arquitetura e Ilustração: Diálogo de duas artes na obra de Madelon Vriesendorp», com classificação final de 19 valores. Obteve menção honrosa no concurso internacional de arquitetura TIL, em Buenos Aires, Argentina e já viu alguns dos seus projetos publicados em revistas de arquitetura. Nos últimos anos tem colaborado pontualmente com o atelier Joana Vasconcelos.

Gabriela Sotto Mayor é ilustradora de literatura infantojuvenil e investigadora na mesma área. Como ilustradora conta com mais de duas dezenas de livros destinados, preferencialmente, às crianças. Como investigadora (PhD - UM) é autora de vários artigos/capítulos de livro, destacando-se a publicação mais recente: «Ilustração de livros de LIJ em Portugal na primeira década do século XXI: caracterização, tipificação e tendências» (Tropelias & Companhia, 2016). Os seus atuais interesses de investigação são os livros-álbum, com e sem palavras, a resposta leitora a este tipo de publicação e a literacia visual.


Depois da conversa será inaugurada a exposição de ilustrações de Gabriela Sotto Mayor:
 "Porto de Memórias"


domingo, 8 de janeiro de 2017

Instantes Inclusivos - Perpetuar memórias

Instantes inclusivos...
Perpetuar memórias.

A intenção de nos colocarmos no lugar do outro é fundamental, os livros  constituem um meio para compreender o inexplicável da condição humana, testemunhos para perpetuar a memória futura, preservando o passado.
Como poder abordar o que se recusa sequer pensar, encarando a procura da interpretação do que em muitos casos não é compreensível?
Desdobrar os sentidos que vão para além de compreensão na comunicação de acontecimentos vividos, numa vinculação de passar a mensagem metafórica. Bússola interna para resistir entre a espécie humana na sua complexidade.
Situações difíceis de imaginar, em muitos casos, mas que, infelizmente, se repetem hoje em dia e tendem a perpetuar-se. É necessário não esquecer que as guerras continuam por diferentes partes do planeta. Infelizmente o ciclo dos acontecimentos de barbáries repete-se diariamente e voltará a repetir-se em diferentes formatos.
Na prática pedagógica é necessário aludir aos tempos conturbados das diferentes nações, no direito à liberdade de expressão. Importa para isso lembrar, preservando a memória, infelizmente sempre atual. As guerras constantemente vividas, ódios inexplicados, relações impossíveis determinadas pela diferença, acontecimentos, infelizmente, permanentemente atuais, razões para a importância da partilha e leitura destes livros. 
Livros onde em muitos casos, os narradores são observadores de um cenário humano amotinado por situações dramáticas que na maioria dos casos nos transportam a cenários de uma guerra, que, pode ser qualquer guerra... A intolerância de regimes que a civilização humana revela no seu pior estado. Contos onde se expressam os afectos verdadeiros e essenciais do ser humano como solidariedade e amizade, a capacidade de apreciar a beleza em coisas simples, mesmo quando parece que a vida se aproxima do seu término. Memórias de um tempo de preconceitos e barbáries que é preciso lembrar, dolorosamente, sempre, atual.
A Máquina infernal[1] com texto e ilustração de Alain Corbel assenta numa metáfora da capacidade inata do ser humano para o bélico, catarse positiva que permite que a brincadeira se converta em algo pacifista. Os comportamentos e consequências das palavras e dos gestos, que por analogia podem converter-se no seu inverso. A guerra e as suas consequências na esperança fervorosa de que as crianças podem mudar o mundo.
A ilustração manual de técnica mista, com a presença complexa na diversidade de materiais (guaches, pastel e aguarelas entre outros) oscila entre o colorido do mundo positivo e o contraste com cores quentes mas pouco saturados na presença dos cenários bélicos. Uma narrativa nada infernal para contrariar os impulsos belígeros. 

La guerre des mots,[2] (A guerra das letras, em português) tendo como fundo central a discriminação, aborda a supremacia de uma raça, crença na neglicência pelo seu semelhante. Neste caso o mundo dominado por números em detrimento da comunicação verbal, que fazem das letras rebeldes na luta pelo poder. A ilustração digital, de cores garridas maioritariamente opostas ou complementares, sobre fundo preto e colocadas de forma dinâmica, utiliza os contrastes entre as formas e cores, complementado depois por traço livre. As personagens, cuja anatomia geometrizada é ilustrada por números ou letras remetem para a simbologia humana.
Analogias e metáforas facilmente identificáveis por adultos atentos, com referências artísticas, a momentos da história da pintura (Delacroix; Caspar David Friedrich) e da fotografia (batalha de Iwo Jima) entre outras, num espetacular e ambicioso desfile estético com um remate feliz e apelando à pacificação de contendas. Merecidamente recomendado pela Amnistia internacional pela abordagem no respeito pelos direitos para todos em todo o mundo. 

A guerra[3] de Anaïs Vaugelade
Uma ilustração com fundos que mostram panoramas de aguadas ténue sem grande detalhe, muito fluídas a transportarem o leitor para um cenário envolto numa espécie de fumo, manchas simples que tomam forma através da linha, em correlação com o distanciamento das pessoas ou do assunto principal. A construção das personagens simplifica a anatomia com proporções levemente “acaricaturadas” que entregam mais dramatismo às personagens.
Uma narrativa metafórica criada pela analogia e simbologia das cores, cores com vários tons da mesma gama e intensidade de um exército azul e um outro vermelho, fruto dos respetivos reinados nas suas rivalidades. A abordagem da insignificância das guerras e o impacto destas, na vida das pessoas. Dois exércitos inimigos que através da astúcia de uma criança se tornam aliados contra um terceiro reino, o dos amarelos, que tarda em chegar  ou que nunca chega, fazendo com que os pontos de vista da cor se esbatam para nunca existir mais qualquer guerra.

Warum?[4] (em português: Porquê?) de Nicolai Popov (ilustração).
De repente do meio do nada a quebrar o silêncio, quando menos se espera a confusão instala-se. Um livro de imagens de ténues manchas aguadas bastante constantes, mantendo a uniformidade estética que se progressivamente se intensificam na quantidade e na força do contraste ilustrativo ajudando ao dramatismo da narrativa. Manchas constituem a forma e cor, que ganham forma através da linha de forma antropomorfizada. Personagens de animais são simplificadas ao elemento mas não em demasia, ainda assim com pontual pormenor com impacto universal da caracterização humana, as duas espécies em questão (rãs e ratos), apresentam-se como massificação, não existindo individualidade dentro da espécie, por assemelhação à massa humana que carateriza o aglomerado de um povo, de um exército em detrimento da individualidade de cada um. Sendo a estória contada só através de imagens, a parafernália de maquinaria é interpretada como uma espécie de reciclagem de elementos inesperados (sapatos, chapéus), dando a ideia de uma dimensão pequena em termos de escala do universo onde decorre a narrativa. No final, como em todas as guerras já nada resta, só destroços e terra desbravada, assim simplesmente, só nos resta perguntar: Porquê?

L´ennemi [5](em português: “O inimigo”) A guerra tem sempre dois lados.  Neste caso dois homens e duas trincheiras, o que os distingue? Serem o inimigo. Mas como é o inimigo. ? " O inimigo está lá mas eu nunca o vi." Um homem como qualquer outro, com família, com receios. A separação de uma extensão de terreno. Um jogo de espera e de desespero perante a inutilidade da guerra. 
Ilustração simples mas poderosa, próxima do “cartoon”, caneta e tinta, com elementos de colagem como fotos de família, fornecem aos leitores uma visão panorâmica nas semelhanças dos homens. O espaço branco, vazio da página, dá a grande dimensão da solidão e do vazio, ao mesmo tempo que se centraliza no foco principal sem pormenores distratores para a convergência da narrativa. De traço, que muitos poderão considerar infantil, é um traço objetivo na realidade do que é focado. As texturas como factor de aparente trimendimensional, como as dobras das páginas, ou os buracos, constituem um jogo estético belissimamente construído.
Um livro de imagens da dupla Davide Cali e Serge Bloch (este último, recentemente esteve entre nós em destaque na Ilustrarte 2016 e ambos participaram o ano passado num Colóquio na Gulbenkian sobre Livro Infantil).  Um olhar sobre o soldado solitário num campo de batalha estéril. A ironia da componente humana. O que cada um descobre, como a história se desenrola, é que o inimigo não é uma besta sem rosto, mas sim uma pessoa real, com a família, receios e sonhos. Mais um livro recomendado pela Amnistia internacional pela abordagem e reflexão sobre as causas e consequências  da Guerra Mundial no Século XX.

O principio[6] texto de Paula Carballeira e ilustração de Sonja Danowski oferece-nos uma ilustração híper realista que partindo dos elementos reais os exagera enfatizando o dramatismo (tanto personagens como os elementos) com cores pouco saturadas e ténues (uma palidez que se assemelha à lividez dos rostos tristes que vivenciam os trágicos acontecimentos).  Uma textura de cores bastante trabalhada que se vão fazendo notar mais com o impacto da transição da estória num apelo à esperança. O fim de algo como no ciclo da vida predispõem um novo inicio. Um apelo à esperança num relato poético da voz de uma criança que nos apresenta o decorrer de uma guerra.
Livros que invocam as guerras que infelizmente se sucedem. Momentos trágicos da humanidade, circunstâncias que eventualmente não queremos ver repetir, questionando-nos como são possíveis na evolução filogenética, e que vão sendo continuamente replicados.  
Elvira Cristina Silva




in: Educação Inclusiva Vol. 7, nº 1 junho 2016 (pág.  45- 47) Revista da Pin- ANDEE - Essociação Nacional Dos Docentes de Educação Especial
capa de Raquel Reis

1 A Máquina Infernal.  Alain Corbel (Texto e Ilustração) Caminho (2005)
2 La guerre des mots. Dedieu/Marais – Editions Sarbacane (2012)
3 A Guerra.  Anaïs Vaugelade (Texto e Ilustração). Editora Ambar (2002) 
4 Warum?. Nicolai Popov. Neugebauer Verlag (1996)
5 L´ennemi. Davide Cali (Texto) Serge Bloch (Ilustração) Sarbacane (2007)
6 O principio. Paula Carballeira (Texto) Sonja Danowski (Ilustração). Kalandraka (2012).