terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Pequeno Livro das Coisas

Pequeno Livro das Coisas
de João Pedro Mésseder      
Ilustração: Rachel Caiano 
Editorial Caminho (2012)

O título, por si, poderia considerar-se esclarecedor, abordam-se as coisas que nos rodeiam no quotidiano. Contudo, por isso mesmo, habituados que estamos de as ver, na maioria dos casos, não as olhamos com  “olhos de ver”. Neste livro, porém, elas são observadas com um sentido visual apurado, são objetos olhados para além das suas finalidades práticas, numa poesia que exacerba a fragilidade das coisas, e das pessoas, numa passagem efémera. Um olhar atento e poético de ver o mundo que já nos é conhecido do autor João Pedro Mésseder, pseudónimo literário do escritor e professor universitário José António Gomes.
Uma obra de poesia, em muitos casos, temática minoritária escolhida na mediação do livro infantil, contudo, apreciada pelo seu público alvo na cadência e no caminho aberto de leituras a que convida. Um “pequeno livro” enuncia o título, remetendo-nos para um sinónimo enganador, aliás, porque o não dito, nesta obra, é o mais importante. Enaltece-se o formulado num caminho aberto de interpretações aos sentidos dos leitores. É neste espaço de imaginação diegética que se exalta a indagação permanente.
De modo singular, a ilustração, sóbria na escolha de cores, evidencia até,  por isso mesmo, um fio condutor narrativo num elo de circularidade, uniforme e coerente. Circularidade, criada também na narrativa, que nos envolve entre sombras que nos acolhem e invadem e objetos que se polarizam. As ilustrações de Rachel Caiano, essencialmente a lápis de carvão com toques ocasionais de amarelo, vermelho, azul e verde rompem como focos de luz alargando o imaginário estético visual.
A conjugação delicada deste livro, na dupla leitura entre poesia e ilustração, resulta numa cativante e inevitável beleza natural e estética que aclara o prazer essencial da leitura, aditando e perpetuando o sabor das palavras para além da sua redundância.
Merecidamente, esta obra venceu o Prémio Bissaya Barreto de Literatura Infantil 2014, prémio, atribuído bienalmente, que comemora a sua quarta edição.

Elvira Cristina Silva

in: Cadernos de Educação de Infância nº 102 (maio/agosto 2014) 


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"Desvarios de um lápis azul" no Museu Arqueológico do Carmo


Desvarios de um lápis azul
Visão desapaixonada sobre o 25 de Abril, onde se pretende que as estórias narradas sejam, maioritariamente, metáforas de situações vividas antes e depois da Revolução. Nada é dado de bandeja, mas tudo está lá para ser descoberto. Texto, Teatro, Música, Narração, são os ingredientes fortes deste espectáculo. Uma outra forma de aniversariar Abril nos seus quarenta anos.

Reserva de bilhetes:
932559636

sábado, 28 de junho de 2014

Elvira & Cª - A última das guerras - espectáculo para todas as idades

No próximo sábado dia 28 de Junho, fará 100 anos que se deu o atentado que serviu de rastilho ao inicio da Grande Guerra, mais conhecida por Primeira Guerra Mundial, que começaria “oficialmente” precisamente um mês depois. O que alguns consideravam ser uma guerra “rápida” e estar de volta a casa pelo Natal de 1914, e outros achavam que seria a “guerra para acabar com todas as outras”, prolongou-se por mais de 4 anos, mais precisamente durante 1562 dias. São inenarráveis os horrores daquela e coíbo-me aqui de os mencionar. Apenas direi que os nossos “lanzudos”⁽¹⁾ também naquela participaram.
Longe de se pretender comemorar o acontecimento, pois qualquer guerra não será razão para celebrar, vimos por este meio propor-vos que se juntem a nós numa noite de estórias muito especial, onde o tema da “guerra” será abordado de uma forma despretensiosa, mas ao mesmo tempo divertida e sobretudo respeitosa como a situação impõe.
O título “A última das guerras”, é pois o convite para se nos juntarem na Livraria Gatafunho [Largo 5 de Outubro, 9 (centro histórico de Oeiras) Tel.:  21 408 53 29] na noite de 28 de Junho pelas 21:30. Como sempre, para todas as idades.

Um bem haja a todos

¹No começo do Inverno de 1917 foram distribuídos aos nossos soldados pelicos e ceifões alentejanos e certos janotas de trincheira consideravam os suprasumo da elegância usarem os seus agasalhos com o pêlo de carneiro para fora, o que lhes dava um aspecto curiosíssimo. A primeira vez que os boches viram circular na sapa aqueles peludos adversários, o pasmo foi tal que todo o dia houve na beira oposta da cratera uma fileira de espectadores, até que um Fritz folgasão se lembrou de soltar um "Mê!" prolongado, que outros repetiram entre gargalhadas.
Vexado, um dos nossos foi contar o caso ao seu cabo, que, sem a menor hesitação, avançou pela sapa e, como os heróis da Iliada insultando-se sob os muros de Troia, bradou de mão na cinta ao boche que continuava a facécia:
- "Carneiro será o teu pai, meu grande filho da..."
(Brun, André (1919), "A Malta das Trincheiras, Migalhas da Grande Guerra (1917-1918)", pág.57, 2ª ed., Lisboa, Guimarães & C.ª.) 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Instantes Inclusivos - Mundos imaginários, íntimos da realidade



Em comum os livros aqui apresentados reúnem mensagens inclusivas, remetem-nos para o universo infantil, narrativas acompanhadas da leitura eficaz de carácter informativo e de referencial imaginativo numa informação biunívoca.
Remetendo para a ilustração narrativa conhecida dos leitores, estes mundos da ilustração permitem na continuidade visual, bem próximo do imaginário infantil, uma perfeita harmonia de entrega narrativa.
Pela minha experiência, são eficazmente acarinhados pelas crianças. O impacto visual da ilustração contribui em muito para a escolha inicial destes livros por parte daquelas. Depois segue-se o deslumbramento da sequência narrativa.

Uma sombra que desliza” transporta-nos para a narração do ponto de vista de uma criança que através do seu olhar nos invoca a personalidade de uma irmã.
Evoca, logo no título da tradução portuguesa, o que está presente resvalando de um padrão...
A escolha do título nesta versão portuguesa, é quanto a mim um opção sábia, recolhendo a informação dada pela criança que nos carateriza a irmã. Os  títulos de outras edições (Castelhano, Galego, Catalão e Espanhol)  escolheram “Fala-me” remetendo para a ânsia de uma relação verbal. A versão italiana “É, não é?” alude  a um jogo de literacia e de imagem,  remetendo sempre para a dualidade e contradições da personagem que se vai descobrindo na narrativa.
Sem falar uma única vez na problemática ou diagnóstico (como se porventura fosse necessário), o narrador remete-nos para uma particularidade na diferença da sua irmã que não necessita de rótulo.
É esta a grande mestria destas narrativas. Sem subterfúgios, sem lamechices  aborda-se a diferença na sua plenitude, na sua imprevisibilidade e verdadeira fragilidade, paralelamente riqueza do ser humano
As ilustrações sempre arrebatadoras e reconhecíveis de Chiara Carrer desde logo fascinam, sombras que deslizam e iluminam as personagens.  Papel pintado, desenhos, colagens em diferentes superfícies que remetem para diferentes texturas ampliando visualmente a narrativa, nas dúvidas, surpresas, imprevisibilidade. Repleto de sentimentos contraditórios, patenteia que a compreensão e a vivência com a diferença pode não ser uma tarefa fácil, feita de contrariedades e inquietudes mas sempre enriquecedora, apelando para a peculiaridade de cada indivíduo na sua singularidade.  Um livro que é pura poesia de imagem e prosa no modo como permite ver o outro.

O texto de "Queres namorar comigo" é poético na sua abordagem recheada de ternura. Num contexto que apela para a inocência da linguagem da infância constitui uma permanente surpresa na medida em que incorpora  um certo toque de humor na sua forma de abordar os afetos, quase ridículos (como dizia o poeta). Como se alguma vez, todos o sabemos, o amor pudesse ser de outra forma que não ridículo. Amores impensáveis num casamento pouco provável mas surpreendente porque quando se ama, tudo é possível. As ilustrações são impossíveis de descrever. São uma obra de arte em desfile para o leitor que se interessa atento. Dizem mais que muitas palavras e ainda bem que assim é. Pormenores subtis que requerem uma dupla leitura numa sobreposição de desenhos e colagens de diferentes materiais. O formato diferenciado deste livro é desde logo apelativo, porque na verdade exige não só um espaço de arejamento para as fabulosas ilustrações, como também  o tamanho de uma girafa apela a esse formato, contudo não se iludam nesta questão de tamanhos. Às vezes uma girafa é capaz de se tornar pequenina perante um caracol apaixonado e decidido a revelar o seu afeto. Um livro objeto pelo seu formato e beleza estética desde as guardas que nos remetem para um imaginário de infância que antecipa um segredo muito importante. Simplesmente delicioso na sua abordagem, na simplicidade e âmago das mensagens.

O livro  Anton” revela-nos uma criança que estranha a diferença e que apela ao espaço de encontro. A personagem principal revela-nos a sua visão do mundo. Este, por vezes difícil de entender em palavras, mas onde os números se sentem e nessa língua nunca somos estrangeiros.
...”só aprendemos bem se estivermos juntos e só estamos juntos se esperarmos uns pelos outros.
Uma obra filosoficamente poética, cheia de metáforas, para refletir sobre o que está para lá das palavras.
"Não te parece misterioso usares as mesmas letras para dizeres 'tu' e o princípio de 'tudo'?"
O autor, simultaneamente ilustrador oferece-nos imagens ténues e muito simples mas de uma força gráfica bastante apelativa na expressividade do traço e da textura da mancha gráfica, também ela metafórica na sua forma de comunicar com o leitor entre o jogo de texto e lustração.

Um livro para ti, aventura de texto e ilustração de Rita Correia, apresenta-se como uma ode à nacionalidade, uma viagem pelo artesanato, cultura e património onde reúne a multicultariedade e o espírito de partilha.
Partindo do conceito do bookcrossing, este livro propõe novas abordagens e conceitos sobre o dar e receber e exige uma atenção constante aos pormenores e às mensagens nele inseridas.
Um livro jogo, com gente dentro, gente que enaltece o papel do SER em oposição do TER. Dentro deste livro existe ainda um outro para construir. Um livro animado que se poderá desfrutar vezes sem conta.
A ilustração deleitosa, cheia de pormenores, oferece um manancial de (re)descoberta incessante, a autora que se estreia neste livro demonstra a sua autenticidade de profissão. É na ilustração que vem corroborar que uma imagem pode valer mais que muitas palavras. Alargam o conceito da profundidade das mensagens e convidam-nos a viajar nelas na circularidade da obra.

A Casa Grande é um manifesto de cidadania, remete-se para a Casa onde todos vivemos, o mundo que habitamos com pessoas todas diferentes, mas a mesma língua, a universalidade dos sentimentos, da partilha, da amizade, do respeito pela diferença e o uso do tempo ou o que dele se faz. A ilustração num recurso a colagens, perseverante nas cores fortes e contrastantes constitui-se como um elemento marcante na relevância narrativa.



Para além da abordagem estética destes livros deliciosamente arrebatadores a abordagem do texto é transversal na temática do valor urgente da tolerância no encontro da diversidade, combatendo estereótipos, resolvendo conflitos, contribuindo para uma autonomia construída na experiência e nas decisões enquanto cidadão do mundo.
As ilustrações dizem mais que muitas palavras num manancial de informação, provocam sorrisos, uma angústia no peito ou uma lágrima ao canto do olho.


Elvira Cristina Silva

-“Uma sombra que desliza” de Marco Berrettoni Carrara e ilustrações de Chiara Carrer.  Verpraler (2010)
-“Anton” de Simão Vieira. Trinta por uma linha (2009)
-“Queres namorar comigo?” de João Ricardo e ilustrações de Ana Sofia Gonçalves. Dinalivro (2013)
-“Para ti” de Rita Correia (2012 – 1ª edição) edição de autor (os interessados devem encomendá-lo em:
-“Casa grande” de João Manuel Ribeiro e ilustrações de Ricardo Rodrigues. Trinta por uma linha (2012 – 2ª edição)









quarta-feira, 25 de junho de 2014

Elvira & Cª apresentam: A última das Guerras


Ilustração: Liberdade


No próximo sábado dia 28 de Junho, fará 100 anos que se deu o atentado que serviu de rastilho ao inicio da Grande Guerra, mais conhecida por Primeira Guerra Mundial, que começaria “oficialmente” precisamente um mês depois. O que alguns consideravam ser uma guerra “rápida” e estar de volta a casa pelo Natal de 1914, e outros achavam que seria a “guerra para acabar com todas as outras”, prolongou-se por mais de 4 anos, mais precisamente durante 1562 dias. São inenarráveis os horrores daquela e coíbo-me aqui de os mencionar. Apenas direi que os nossos “lanzudos”⁽¹⁾ também naquela participaram.
Longe de se pretender comemorar o acontecimento, pois qualquer guerra não será razão para celebrar, vimos por este meio propor-vos que se juntem a nós numa noite de estórias muito especial, onde o tema da “guerra” será abordado de uma forma despretensiosa, mas ao mesmo tempo divertida e sobretudo respeitosa como a situação impõe.
O título “A última das guerras”, é pois o convite para se nos juntarem na Livraria Gatafunho [Largo 5 de Outubro, 9 (centro histórico de Oeiras) Tel.:  21 408 53 29] na noite de 28 de Junho pelas 21:30. Como sempre, para todas as idades.

Um bem haja a todos.

¹No começo do Inverno de 1917 foram distribuídos aos nossos soldados pelicos e ceifões alentejanos e certos janotas de trincheira consideravam os suprasumo da elegancia usarem os seus agasalhos com o pêlo de carneiro para fora, o que lhes dava um aspecto curiosíssimo. A primeira vez que os boches viram circular na sapa aqueles peludos adversários, o pasmo foi tal que todo o dia houve na beira oposta da cratera uma fileira de espectadores, até que um Fritz folgasão se lembrou de soltar um "Mê!" prolongado, que outros repetiram entre gargalhadas.
Vexado, um dos nossos foi contar o caso ao seu cabo, que, sem a menor heistação, avançou pela sapa e, como os heróis da Iliada insultando-se sob os muros de Troia, bradou de mão na cinta ao boche que continuava a facécia:
- "Carneiro será o teu pai, meu grande filho da..."
(Brun, André (1919), "A Malta das Trincheiras, Migalhas da Grande Guerra (1917-1918)", pág.57, 2ª ed., Lisboa, Guimarães & C.ª.)

terça-feira, 24 de junho de 2014

A última das guerras por Elvira & Cª

(Ilustração: Liberdade)


No centenário da I GG . Elvira & Cª contam estórias sobre a última das guerras... 
ou de todas as guerras...

Dia 28 de junho - 21h30 na Livraria Gatafunho
Largo 5 de Outubro - Oeiras (junto à Igreja)

domingo, 18 de maio de 2014

Desvarios de um lápis azul em noite de lua cheia




(Fotos de ECSilva)

Desvarios de um lápis azul é a última mala de estórias do projeto Elvira e Cª.
Uma mala de estórias sobre o antes e o depois do 25 de abril de 1974, data que urge (re)lembrar.
No passado dia 14 de maio a convite do Teatro Lua Cheia  apresentámos mais uma vez estes "Desvarios".
Foi uma noite mágica. Só quem esteve presente pode perceber a emoção envolvente. Os adultos partilharam experiências, os novos descobriram o valor das palavras.
No final descobriram livros e objetos que desconheciam. Foi mágico. Agradecemos as fotos de Maria João Trindade que documenta uma noite muito especial.
Obrigada a todos os que acreditam no poder das estórias e neste caso no projeto Elvira e Cª.


























(FOTOS de Maria João Trindade)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Desvarios de um lápis azul em noite de Lua Cheia





14 Maio, quarta-feira, 21h00
Desvarios de um lápis azul
O sol brilha, as andorinhas voam, os cravos florescem…! Somos livres!
É obrigatório relembrar!

(Elvira, Paulo e Gustavo)

 Espaço Lua Cheia
R. de Barcelona, 128 c/v Bairro P. Cruz CARNIDE
Idades: (ex: M/4)
Reservas: Tm 938018777 | 966046448
Bilhete 3€ | 1€ < 12 anos e residentes em Carnide


Até já!
Ana Enes e Maria João Trindade