segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O Regresso ...ao jardim

Os cheiros, as flores, o jardim. Os espaços deixados pelas saudades. Os afectos que apesar da ausência permanecem para sempre na memória. Os lugares que revisitamos e a que regressamos.
Um livro que me devolve as memórias apesar da perdas. O regresso


Um livro que me acompanha.
A banda sonora para este livro encontrei-a agora: O jardim

Eu nunca te quis
Menos do que tudo
Sempre, meu amor
Se no céu também és feliz
Leva-me eu cuido
Sempre, ao teu redor
São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
Eu já prometi
Que um dia mudo
Ou tento, ser maior
Se do céu também és feliz
Leva-me eu juro
Sempre, pelo teu valor
São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
São as flores o meu lugar
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim
Agora que não estás
Agora que não estás
Rego eu o teu jardim

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Instantes Inclusivos... Livros com recurso à comunicação aumentativa

O livro infantil, não necessita propriamente ser só para crianças. Nesta rubrica já referi que um bom livro é transversal e que os adultos são normalmente contagiados, quando o enlace entre uma boa narrativa e a ilustração se fundem na perfeição.
Essa união funciona como complemento das nossas emoções, a narrativa textual penetra a par do que a imaginação lê nas entrelinhas da ilustração.  
O livro, para ser utilizado pelas mãos das crianças funciona a par da narrativa, como um instrumento facilitador da linguagem e comunicação.
O livro adaptado, que recorre aos sistemas aumentativos e alternativos de comunicação (SAAC), funciona como um instrumento facilitador dessa comunicação, no sentido em que para desenvolvimentos muito específicos, devido a diferentes factores, possibilita de modo acessível a aproximação à narrativa, através de símbolos que funcionam como um meio gráfico compreensível e prático.
Ferreira; Ponte e Azevedo (2000) referem três vertentes comunicativas a promover na criança, nomeadamente funcional, espontânea e independente (pág.123).
Para que se possa constituir como  um instrumento de comunicação funcional a história adaptada deve inserir-se em contextos naturais e abranger vocabulário relacionado com os interesses e necessidades da criança, possibilitando que esta interprete os factos e os relacione entre si.
De modo a promover a comunicação espontânea, oferece-se oportunidades de escolha e incentiva-se a tomada de iniciativa.
No sentido de fomentar o desenvolvimento da comunicação independente, recorre-se aos símbolos, os quais proporcionam um esquema simplificado das categorias verbais e simultaneamente uma expansão da ilustração, facilitando a compreensão da narrativa. (Barbosa, 2003; página 59).
Ferreira; Ponte e Azevedo (2000) referem que as histórias devem ser ritmadas e com linhas de repetição, permitindo à criança tomar a iniciativa de participar na leitura, introduzindo durante a narração da história as frases repetitivas transcritas em símbolos. Premissa reiterada por Caldas (2000) quando refere: "as crianças, em particular, têm prazer na repetição, seja ela de um pequeno gesto, seja de um ruído, ou de uma história. ... Pode dizer-se que os eventos que se repetem no tempo se transformam em atractores de experiência, dando ao sujeito um núcleo de memorização" (p. 195).
A questão da memorização na utilização do símbolo pictográfico é deste modo enfatizado, permitindo em simultâneo a comunicação espontânea e independente, fomentando a capacidade comunicativa e autónoma da criança para além do favorecimento do desenvolvimento global das suas capacidades, como a atenção ou discriminação perceptiva.
Reconhecendo-se a importância deste sistema aumentativo e alternativo de comunicação, não só pelos autores já citados, bem com investigações realizadas que comprovam diferenças significativas nas interações das crianças que usufruem destes recursos (Nogueira, 2009; pág. 127), existem em diversas redes sociais, alguns trabalhos feitos por profissionais de educação no sentido da partilha de materiais com livros adaptados. A oferta editorial, contudo, infelizmente, ainda é reduzida.

O Segredo do Sol e da Lua com texto de Graça Breia e Manuela Micaelo, ilustrado por Raquel Pinheiro foi um dos primeiros livros editados pela Cercica em 2008. Uma coleção com o nome de 4Leituras que remete para a leitura propriamente dita e incluindo um DVD que permite a audição da estória narrada; a estória narrada e acompanhada em LGP (Língua Gestual Portuguesa); e a versão narrada acompanhada pelo SPC (Símbolos Pictográficos para a Comunicação).
Esta coleção associa a cada livro uma oferta adicional, tendo sido o primeiro acompanhado de um livro impresso cartonado, com a narrativa acompanhada pelo referido sistema, encadernado em sistema de argolas para fácil manuseamento.
Livro que também pode ser adquirido individualmente, contudo face a uma tiragem de 1000 exemplares, já é pouco comum, a possibilidade de se encontrar disponível para venda.
Todos os outros títulos desta coleção remetem para esse sistema de comunicação mas requer a utilização do DVD o que na prática dificulta o acesso. Sabemos que nem todas as escolas têm aceso a computadores, o software nem sempre reconhece o DVD e não possibilita a impressão do mesmo, o que a ser possível também envolvia alguns custos para que a sua utilização fosse a ideal (cartonado, a cores, encadernado....)
De salientar que este livro, sendo uma óptima ferramenta, apresenta-se como uma razoável durabilidade mas de relativo manuseamento para mãos pequenas.

A editora Kalandraka, editou em Portugal (2009), dois títulos já existentes no seu catálogo publicados originalmente em 2005:
Chibos Chibões, da autora Olalla González, ilustrado por Frederico Fernandez e
O Patinho Feio de Manuela Rodriguez e ilustrações de Ana Sande. Em parceria com a associação galega B.A.T.A. Associação responsável pelas versões dos textos na coleção intitulada MAKAKINHOS, são publicados estes dois títulos com o SPC.
Esta editora tem ainda no seu catálogo, outros títulos publicados nesta coleção, infelizmente, apenas em espanhol, nomeadamente o famoso A que sabe a lua de Michael Greniec, editado entre nós, apenas na versão original.  

Todas estas publicação da editora Kalandraka, respeitando um texto cuidado e a ilustração original, são de versão normal, capa dura e folhas de papel comum o que para crianças muito pequenas ou com dificuldades a nível de motricidade fina dificulta o virar de página autonomamente.  
São muitos os países que optam por diversas versões quando da publicação de um livro: capa mole, tamanho para mãos pequenas e fundamentalmente uma versão em SPC. Infelizmente, em território luso, ainda temos um caminho a percorrer nessa preocupação editorial.
Os livros anteriormente citados constituem-se como obras de referência a serem explorados com crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Apresentam na sua generalidade sintaxe simples e linear do texto, utilizando o símbolo em reforço do texto alfabético, com ilustração clara e descritiva sem exigir dificuldades inferenciais, contudo, sem impedirem a capacidade de imaginação.
Uma coleção que me encanta pela qualidade ao nível de todo o cuidado numa publicação pensada e imbuída de respeito pelo público alvo é uma publicação de origem italiana. Trata-se da coleção intitulada collana pesci parlanti da editora uovonero.
Cumprindo já os requisitos anteriormente citados ao nível da sintaxe e da apresentação dos símbolos, apresentam uma frase por linha, texto em maiúsculas para maior legibilidade e facilidade no acesso à leitura.  Apresentam uma cuidada narrativa, simplicidade e cuidado na ilustração e sobretudo uma preocupação na estrutura reforçada do livro, cartonado, de formato original, concebido para facilitar o manuseamento do livro, constituindo-se como um factor relevante na autonomia do utilizador.
Esta coleção possui vários títulos que envolvem os clássicos dos contos e outros originais, tendo sido inicialmente idealizados para crianças com autismo, estes livros adequam-se  a crianças do pré escolar ou que iniciam a leitura.
Sendo livros resistentes e fáceis no seu manuseamento é possível o folhear do livro sem saltar páginas. A título de exemplo seleciono “Biana Neve” com ilustrações de Tommaso D` Incalci.
Uma vez mais, pela qualidade e dualidade que estes livros oferecem, não só crianças, mas também adultos promotores destas leituras, se deliciarão na partilha destes livros versados.
Assim, fica o desejo de boas leituras!




Bibliografia:

Barbosa, Maria Henedina Pinto (2003). O Livro - Instrumento de Comunicação em Crianças com Necessidades Educativas Especiais. Disseretação de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e da Educação da Criança na especialidade de Intervenção Precoce. Porto: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação – Universidade do Porto.

Castro Caldas, A. (2000). A herança de Franz Joseph Gall. O cérebro ao serviço do comportamento humano. Lisboa: McGraw-Hill.

Ferreira, M.C.T, Nunes da Ponte, M., Azevedo, L.M.F. (2000). Inovação curricular na implementação de meios alternativos de comunicação em crianças com deficiência neuromotora grave. Lisboa: Secretariado Nacional para a Reabilitação e I. das Pessoas com Deficiência.


Nogueira, Célia (2009) Educação especial – comunicar com crianças com paralisia cerebral. Editorial Novembro

in: rubrica Instantes Inclusivos da Revista: Educação Inclusiva (revista da Pró-Inclusão - 
Associação Nacional de Docentes de Educação Especial) Vol. 8 - Nº 1 - (julho 2017) (pág. 34-36)