sexta-feira, 9 de março de 2018

FRIDA

Frida
Sébastien Perez (Texto)
Benjamimn Lacombe (Ilustração)
Kalandaka (2017)

Olhar a capa deste livro é por si só uma exortação.  O rosto da artista para os que a conhecem é como uma veneração. Para os que a desconhecem o título identifica-a.
A beleza enigmática da capa, a par da obra da artista visada é um enlevo para o leitor. Não se resiste a olhar, a tocar o tecido da capa dura com que é forrado, aumentando o desejo de o folhear.
Ao fazê-lo, percorrem-se as páginas do livro como se viajássemos no tempo, a par de uma exposição museológica que nos remete para o universo pictórico da artista.
A obra começa com o acidente de Frida, que de certo modo predestina o início do seu percurso artístico.

É assim que nasço, debaixo de uma chuva de ouro que num instante me ofusca o rosto. Entre os odores a ferro quente e fumos que irritam os olhos, o sol nasce numa nova paisagem. “


Uma viagem poética, ao longo de nove temas escolhidos simbolicamente na vida da artista (o acidente; a medicina; a terra; a fauna o amor; a morte; a maternidade; a coluna partida e a posteridade, numa ordem cronológica de acontecimentos). Nove é também o número simbólico da cultura asteca e valorizada pela artista, o que preconiza que nesta obra tudo foi pensado criteriosamente.
Cada um dos nove temas, é apresentado por três secções de três  ilustrações, que se sobrepõem com recurso a cortantes. O texto poético recorre a palavras da própria autora (recolhidas do diário e correspondência pessoal), assim como as magníficas ilustrações recriam alguns dos seus quadros.
No final do livro, este possui para além da cronologia história de acontecimentos da vida de Frida, um glossário, precedidos ainda, por um texto explicativo do ilustrador sobre os critérios para a realização do livro, enquadramento pessoal do ilustrador a par da descoberta da riqueza poética e artística da conturbada e fascinante artista.

Ainda há pouco, era eu uma menina que caminhava num mundo de cores. Era tudo misterioso. Agora moro num planeta doloroso, transparente, como que de gelo, mas que nada oculta.”

A  vida e a dor de uma artista que nos contemplou com a grandiosidade do belo, numa obra convertida em arte, como refere o ilustrador num artigo que pode ser lido em:

O belo no seu esplendor. Um livro que, para além de uma homenagem a Frida Kalo, é uma homenagem à arte, constituindo-se ele próprio, uma obra de sumptuosidade estética a que ninguém ficará indiferente após a viagem a que nos entrega.
Um perfeito deleite para os sentidos.

Elvira Cristina Silva