Frida
Sébastien Perez (Texto)
Benjamimn Lacombe (Ilustração)
Kalandaka (2017)
Olhar a capa deste livro é por si só uma exortação. O rosto da artista para os que a conhecem é
como uma veneração. Para os que a desconhecem o título identifica-a.
A beleza enigmática da capa, a par da obra da artista visada
é um enlevo para o leitor. Não se resiste a olhar, a tocar o tecido da capa
dura com que é forrado, aumentando o desejo de o folhear.
Ao fazê-lo, percorrem-se as páginas do livro como se
viajássemos no tempo, a par de uma exposição museológica que nos remete para o
universo pictórico da artista.
A obra começa com o acidente de Frida, que de certo modo predestina
o início do seu percurso artístico.
“É assim que nasço, debaixo de uma chuva
de ouro que num instante me ofusca o rosto. Entre os odores a ferro quente e
fumos que irritam os olhos, o sol nasce numa nova paisagem. “
Uma viagem poética, ao longo de nove temas escolhidos
simbolicamente na vida da artista (o acidente; a medicina; a terra; a fauna o
amor; a morte; a maternidade; a coluna partida e a posteridade, numa ordem
cronológica de acontecimentos). Nove é também o número simbólico da cultura
asteca e valorizada pela artista, o que preconiza que nesta obra tudo foi
pensado criteriosamente.
Cada um dos nove temas, é apresentado por três secções de
três ilustrações, que se sobrepõem com
recurso a cortantes. O texto poético recorre a palavras da própria autora
(recolhidas do diário e correspondência pessoal), assim como as magníficas
ilustrações recriam alguns dos seus quadros.
No final do livro, este possui para
além da cronologia história de acontecimentos da vida de Frida, um glossário,
precedidos ainda, por um texto explicativo do ilustrador sobre os critérios
para a realização do livro, enquadramento pessoal do ilustrador a par da
descoberta da riqueza poética e artística da conturbada e fascinante artista.
“Ainda há pouco, era
eu uma menina que caminhava num mundo de cores. Era tudo misterioso. Agora moro
num planeta doloroso, transparente, como que de gelo, mas que nada oculta.”
A
vida e a dor de uma artista que nos contemplou com a grandiosidade do
belo, numa obra convertida em arte, como refere o ilustrador num artigo que
pode ser lido em:
O belo no seu esplendor. Um livro que,
para além de uma homenagem a Frida Kalo, é uma homenagem à arte,
constituindo-se ele próprio, uma obra de sumptuosidade estética a que ninguém
ficará indiferente após a viagem a que nos entrega.
Um perfeito deleite para os sentidos.
Elvira
Cristina Silva
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