Kalandraka (2014)
Este livro, de grande formato, deleite para os apreciadores
de arte, é recomendado pelo autor para pequenos e grandes. Evidentemente que se
entende que nada tem a ver com a dimensão do leitor, mas antes uma indicação
que é para todos os que se disponibilizam com algum do seu tempo. Tempo para um
olhar atento e cúmplice, de quem já vivenciou algumas das situações referidas e
sabe que há regras que são indiscutíveis, ou que pelo menos tendem a ser
simplesmente “porque sim”.
É de aprendizagens que fala este livro. Num tempo
privilegiado de descobertas que é o verão, como que se de um diário se
tratasse, a criança mais nova regista os pequenos textos (regras), a par das
ilustrações/pinturas de duplas páginas ou página inteira que elucidam as
convenções sociais impostas por crianças e/ou adultos e, de algum modo, a
consequência do não cumprimento das mesmas. Uma aventura protagonizada por dois
rapazes, envolta num ambiente fantástico e surrealista numa busca de
conhecimento e autonomia.
Embora exista o aviso, (remetendo para a nota em contra capa:
“Nunca quebres as regras. Sobretudo se não as compreendes.”) Existe a
“provocação” do quebrar das ditas regras. É na metáfora das experiências de
vida, na relação do mundo e com o outro, a par das ilustrações que remetem para
a sobredimensão das situações vividas, onde visualmente se deslumbra o
descalabro, o espanto, o imaginário, mas também o desafio do crescimento.
Envolto em ficção e fantasia, e de certo modo também com uma dose de nostalgia
que o autor/ilustrador já nos habituou, este livro poético, oferece leituras
paralelas, essencialmente na ilustração que alarga o pouco texto narrativo.
Mundos desprovidos de representação real, mas que da realidade fazem parte,
contaminando instantes misteriosos e surrealistas numa fascinante incursão da
leitura que fazemos do mundo e como nele vivemos, envoltos em medos e desejos,
mas sobretudo de descobertas e mudanças constantes. Uma viagem pelo desenvolvimento,
a par do absurdo e do imaginário, numa circularidade do que é a aprendizagem real
e, sobretudo, de quem afinal, aprende com quem.
Elvira
Cristina Silva
In:Sugestão de leitura - Newsletter ProInclusão nº 110 - Set 2017 - pág.8
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